Para o cão, tudo se decide antes dos seis meses...ou quase. Este poderia ser o título de um livro de pediatria canina, que seria um êxito de vendas. Mas convém ser prudente, pois em pedagogia toda a regra tem excepções.
O MEIO POBRE
Nestes últimos anos, os etólogos têm estudado a importância do meio em que o indivíduo vive, determinando a influência desse meio sobre o seu comportamento.
Um quadro patológico pode ter origem no meio interno e traduzir-se numa doença que, no jovem, pode atrasar a aprendizagem do comportamento social.
O meio externo é constituído pelo conjunto do mundo animado e inanimado que rodeia cachorro e que fomenta nele um comportamento exploratório.
A existência de ruídos, diversos objectos, cães, gatos e humanos no universo do cachorro constitui aquilo que os etólogos chamam de um meio rico.
Pelo contrário, o cachorro metido com a sua mãe a um canto do pátio ou na garagem, tendo como único contacto a deposição quotidiana de um comedouro de comida, cresce num meio pobre, o que significa que recebe poucos estímulos externos e que não enfrenta situações complexas. O seu desenvolvimento comportamental ressentir-se-á disso, pois não adquirirá todos os conhecimentos com a aprendizagem. A essa existência num meio pobre chama-se privação.
Os efeitos patológicos da síndrome de privação variam consoante a idade do animal e há quanto tempo sofre dela. O adulto que se vê numa situação de privação social, como, por exemplo uma hospitalização prolongada ou uma estada num refúgio ou num canil, recupera mais rapidamente que o cachorro pequeno nas mesmas condições.
O cachorro criado sem estímulos desenvolve uma síndrome de privação grave; não tem nenhum comportamento exploratório e manifesta um grande medo de tudo o que seja novo; em contrapartida, tem uma grande resistência à dor. A sua reeducação comportamental requer muita paciência por parte do dono e deve ser feita sob controlo do veterinário.
A criação de um cachorro sem a presença dos seus congéneres impedi-lo-á de ter comportamentos sociais mais tarde. Experimentou-se criar um chihuahua com uma ninhada de gatos de quatro semanas; no final de doze semanas, o cão não se reconhecia ao espelho e era incapaz de estabelecer relações com outros cachorros; em troca, estava muito familiarizado com os gatos.
O MEIO CERTO
O jogo desempenha um papel muito importante na vida do cachorro. Confrontado com situações diversas a partir das cinco semanas, o animal adquire uma sólida experiência.
O meio mais favorável para o óptimo desenvolvimento do cachorro não é uma atmosfera confortável e a temperatura constante. Foi já comprovado que as condições moderadamente "stressantes" - correntes de ar, manipulações pelos humanos durante o período neonatal, separação momentânea da mãe - têm uma influência positiva no desenvolvimento da emotividade do cachorro, que se adapta com maior rapidez e de uma maneira mais confiante.
Chama-se "handling" a estas técnicas de manipulação do animal jovem. Mas, como todas as técnicas, devem ser utilizadas com coerência e comedidamente. Se se estimular demasiado um animal jovem, pode tornar-se medroso.
Além dos seus efeitos positivos sobre o desenvolvimento psicomotor, o handling tem a propriedade de aumentar a resistência do organismo a certas doenças. As hipóteses hoje habitualmente aceites incluem o papel do handling como factor do "desenvolvimento e funcionamento do eixo hipófise-adrenocórtex".
O UNIVERSO DO CACHORRO
Na primeira infância (até ao desmame) o cachorro só se ocupa de estar bem com a mãe e os seus companheiros num ambiente tranquilo e civilizado. O sono reparador continua a ser uma necessidade imperiosa que põe termo às primícias do jogo.
As coisas sérias começam a partir das cinco semanas, com a aprendizagem das condutas sociais; a mãe ensina ao cachorro a gramática do comportamento e a conduta com os intrusos, enquanto que o confronto com situações diversas lhe permite adquirir uma sólida experiência.
A bola escondida atrás de uma caixa de cartão pode constituir uma situação tão complexa a resolver como o primeiro banho de mar. Em suma, é nesta idade que se tem de pôr o cachorro em contacto com o maior número possível de elementos, sempre de maneira confiante.
Escolha, se possível, objectos de plástico que resistam bem aos acerados dentes de leite. É importante para cachorro ter os seus próprios brinquedos. Não há como dar-lhe para brincar um velho sapato para ele se apropriar de tudo o que tiver mais ou menos o mesmo sabor.
Os brinquedos sonoros parecem ser os preferidos dos cachorros; aproveite-se do prazer que lhes proporciona encontrar um brinquedo que faça ruído para os ensinar a responder à simples audição de qualquer ruído.
Exemplo de objecto que eles gostam muito
Há uma experiência norte-americana que bem poderia ser posta em prática em Portugal, onde infelizmente os cachorros saem demasiado cedo de junto da mãe, o que torna difícil e até impede a aprendizagem dos comportamentos sociais: as "creches" para cachorros. Haverá quem diga que isso é parvoíce. Mas não é assim, pois ao agrupá-los desse modo durante uma ou duas horas por semana, permite-se aos cachorros órfãos ou privados da sua família "canina" gozarem das alegrias lúdicas da fratria.
14 comentários:
gostei muito de ler...e os gatos?
Ana Cristina,
Com muitas semelhanças,a principal, os gatos são mais precoces!
Aos 15 dias de idade, deves começar o imprinting, sociabilização, :-)
Beijinhos
MP mais um artigo de eleição! descreveste de forma simples e extremamente clara a importância desta fase da vida dos cachorros, quantas vezes ignorada!
Sempre me orgulhei dos cachorros das ninhadas que fiz por serem cachorros bem sociabilizados, confiantes e habituados a lidarem com situações variadas :) Faz toda a diferença...
Bjos de luz e bom fim de semana!!
Oi Linda... MP*
Sem dúvida escreves lindamente, já te tinha dito mas os teus textos são muito bons e principalmente demonstram o conhecimento e aprendizagem que tens tido e vais tendo sempre sobre os nossos amiguitos. Pergunto eu... Será que os nossos "terroristas" tiveram uma boa infância, será que existem erros que cometemos com eles que tenham percursões no futuro?Talvez, o passar a mão qd fazem estragos será um deles, néh!
Deixa-me dizer-te hoje fui acordada pelo Lilo, raramente este menino tem atitudes destas, foi acordar-me com uma meiguice espantosa, claro que qd eu dei conta ele voltou aquele terrorista, foi giro ver a reacção dele sem saber que o tava a observar **)
Linda continua, gosto mt de ler as tuas coisas *)
Beijocas
Oi *)
Esqueci-me Belas fotos, mas a 1º LINDA mesmo...!
Bjs *
Olá :))
Já estou a imaginar o teu novo projecto, lol...depois do hotel&spa thalasa dog, a tal creche :))
Beijinhos
Boa noite Paula,
Gostei muito da aula!!!
Continua ok...
Bjs
Bom dia Siala,
"Faz toda a diferença..."
É essa diferença que tarda em ser entendida e incutida nos donos.
Obrigado amiga
Beijo e bom-fim-de-semana
Bom dia Bruna,
Os textos não são meus linda. São textos soltos de um enciclopédia que tenho com ligeiras adaptações...
Soubeste educá-los amiga. Não confundas jovens bebés e alegres com má infância! :-)
A atitude do Lilo é compreensível. Basta reveres o que fizeste no dia anterior, :)
Ele reflectiu isso...
Beijo e bom fim de semana.
Eu por aqui, terminaram as "férias" de fim de semana, pois vai iniciar a caça,;)
A primeira foto é um momento especial... 2 infâncias em simultâneo em operfeita harmonia. ;-)
Bom dia Sam,
Obrigado mas não me parece, lol
Mas pode ser que faça despertar a ideia a alguém, ;-)
Beijinhos e bom fim de semana
Bom dia Ana Cavaca,
Grata amiga.
Continuarei dentro de dias... ;-)
Beijinhos
Cuida-te, ;-)
Olá Maria Paula
Devo-te confessar que me sinto orgulhosa com a harmonia que se pode ver na primeira foto. Estão as duas lindas!!!! A Matilde está muito bonita (quem a viu e quem a vê agora...)Claro que não falo da Ritocas que é um Amor!!!
Um Beijo e continua...
Oi oi Catarina,
Fico muito contente pela tua visita aqui e pelas tuas palavras.
Deixa-me dizer-te que tento sempre que as fotos sejam da "BandarraVet".
E há casos muito lindos de contar. A história da Matilde é uma delas, ;)
Bem-hajas tu amiga e pelo grande coração que tens.
Um beijo grande
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