31/01/2009

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO - PARTE II

Ora, vamos lá apanhar, upa!

O papel da comunicação voluntária ou involuntária, essencial para as relações sociais no seio de um grupo, assume uma grande importância quando o grupo em questão abrange homens e cães.

Em geral, designa-se por «linguagem e comunicação» o conjunto de mecanismos que permitem «transmitir uma informação» e facilitam a sua compreensão pelo interlocutor. Mas na realidade isto não é assim tão simples, pois o homem e o cão também comunicam com silêncios.


ENTRE CÃES


Vamos lá...

De cada vez que um cão transmite voluntariamente uma mensagem, exprime-se por meio de rituais que abarcam posturas, mímicas, latidos e cheiros. Mas também transmite involuntariamente elementos que traem o seu estado emocional e as suas reacções profundas face a uma dada situação. Assim, o jovem macho, com pouca experiência e cuja mãe não ocupe um lugar elevado na hierarquia não consegue ocultar o temor quando tenta dominar um congénere desconhecido. Se este tiver experiência suficiente e se estiver habituado a esse tipo de interacção, dar-se-á conta da fraqueza do seu adversário.

O GESTO E A PALAVRA

Do mesmo modo, ao tentar dominar o seu cão o dono enfrenta o problema de como o cão aceitará o seu domínio. Numa situação destas, esse dono poderá dar uma ordem cujo enunciado seja adequado, mas a postura pouco firme, defensiva, o tom da sua voz e a sua mímica inconsciente trairão a sua indecisão. O cão que se apercebe desta «abertura» não executará a ordem, apesar de a conhecer, e adoptará uma atitude ameaçadora para conseguir a submissão.

HARMONIA E COMUNICAÇÃO

Cá nos entendemos, não é?

É fácil, portanto, compreender o papel essencial da comunicação no plano da hierarquia. Este papel é bem conhecido dos especialistas, pois desde Konrad Lorenz que estes sabem que a hierarquia não se baseia só na relação de forças existente num combate. A comunicação, além do seu papel social e hierárquico, também tem uma função pacogénica (geradora de perturbações) cuja importância tem de se ter em conta. Os rituais que permitem medir a agressividade e suprimir o carácter ansiogénico da interacção entre indivíduos funcionam quase sempre bem nos grupos homogéneos, mas não tanto nos grupos pluriespecíficos, em especial nos grupos homem-cão. É bastante difícil conhecer as motivações que levam uma pessoa a arranjar um cão, mas pode-se afirmar que não têm muito a ver com as que impelem o cão a procurar a companhia do homem. Nas suas interacções com o cão, o homem tenta conseguir que o animal cumpra uma ordem que é conforme à lógica social humana

Mas no comunicar da ordem os vínculos afectivos que o dono talvez sinta poderão modificar o conteúdo da mensagem. Poderão ocorrer perturbações de dois tipos. Primeiro, a execução da ordem voluntariamente expressa implica uma atitude dominante da parte do dono; se não se aplicar esta regra, o animal não obedecerá.

Os manos, Jedy e Jord

Por outro lado, no caso de uma interacção altamente significante no plano hierárquico (mandar o cão para a sua cama, por exemplo) qualquer ordem modificada por mímicas e posturas que traiam medo levarão o cão a atacar o dono. Por último, a comunicação pode converter-se em ansiogénica quando a natureza dos vínculos hierárquicos existentes na família forem ambíguos. A repetição de interacções sociais nas quais o dono só considera a sua própria percepção da situação engendra com frequência no cão estados ansiosos que aparecem logo em muito pequeno. As flutuações que o cão percebe em relação ao seu lugar no grupo familiar impedem o estabelecimento das regulações sociais que condicionam em parte a estabilidade emocional do animal.

Zola, Ara e Avalon, filha, mãe e pai! :-)

29/01/2009

LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO - PARTE I

Diz-se, frequentemente, que «só lhe falta falar». Na verdade, o cão dispõe de vários meios de comunicação, sinais olfactivos, visuais, acústicos assim como mímicas corporais. À força de viver ao lado o homem, o cão acabou por «imitar» algumas expressões deste e... vice-versa.

Jedy abraçando a dona ou vice-versa? Reparem na mimitização de posturas.

Quando se fala de comunicação entre o cão e o homem surgem duas correntes opostas: enquanto que uns pensam que o cão capta tudo o que se lhe diz, outros consideram que é incapaz de compreender alguma coisa. As duas opiniões são exageradas, embora haja uma certeza, o cão não tem linguagem e não compreende as palavras. Disso não se pode deduzir, no entanto, que a comunicação entre o homem e o animal é impossível.

Na realidade a linguagem não é o único veículo de informação, e há outros sistemas que o podem substituir.

A FALA CANINA

Quando o cão comunica com os seus congéneres utiliza diversos meios de expressão que os especialistas chamam canais de comunicação.

Só falta mesmo, falar!

O canal vocal


Os cães utilizam diferentes séries de sons para expressar os seus estados emocionais, e isso muito precocemente, uma vez que os cachorros se manifestam ruidosamente para pedir ajuda à mãe ou conseguir comida. Este meio de comunicação perderá importância ao longo do tempo; o adulto é menos «tagarela» que o cachorro. Apenas as raças de pequenos sabujos, podengos (especialmente na caça de montaria) têm um variado repertório de «vozes» que permite aos caçadores seguir os progressos da busca.

O canal olfactivo

Devido à menor agudeza do nosso sentido olfactivo e ao facto de ser tão pouco importante na nossa vida, torna-se muito difícil apreendê-lo. No entanto, no cão, muitas mensagens relativas à classe social, ao estado de receptividade genital e talvez, inclusive, à matilha de origem, se transmitem por essa via. Assim, as mensagens urinárias depositadas pelos machos destinam-se principalmente a informar os congéneres sobre a classe social o emissor. Neste caso também intervém o aspecto visual; a localização do depósito de urina está feita para ser vista, e assim os dominantes levantam a pata o mais alto possível. E desde logo, o aspecto olfactivo, está presente pois há substâncias de natureza ainda não determinada nesta espécie que estão misturadas com a urina. Quanto às cadelas em cio, também depositam algo das suas secreções vaginais na urina para atrair os cães mesmo a grande distância.

O canal visual

Mais importante no adulto, associa mímicas faciais e posturas. O cachorro recém-nascido é incapaz de utilizar completamente este meio de expressão devido ao seu escasso controlo corporal (pois o sistema nervoso não está maduro); adquiri-lo-á graças ao jogo no seio da ninhada. Esta aprendizagem e a configuração dos sistemas de comunicação parecem que duram até à idade da puberdade; os jovens machos terão então aprendido todas as subtilezas necessárias para evitar os confrontos com os exemplares dominantes.

Já se aperceberam da expressão facial em plena "hora de ponta"?

UM MIMETISMO POR VEZES ASSOMBROSO

Estes modos de comunicação não verbal não são alheios ao homem. Já Darwin descreveu a expressão das emoções no homem e nos animais, e torna-se surpreendente comprovar que as manifestações dos diferentes estados emocionais são completamente comparáveis em espécies tão diferentes a priori como o homem e o cão. Assim, a agressividade expressa-se descobrindo os caninos, elevando os ângulos externos das pálpebras, projectando a cabeça para a frente e levantando os ombros, posturas e mímicas todas elas que se encontram tanto no molosso mais irascível como no automobilista vítima de um engarrafamento. E mais ainda, quando as duas espécies, homem e cão, têm desde logo relações afectivas muito estreitas, gerar-se-á um ajuste recíproco dos seus comportamentos. Este fenómeno particular, descrito por Hediger, chama-se «tendência à assimilação»; o animal pode adoptar posturas ou mímicas que reproduzem os sistemas humanos, e então fala-se de antropomorfismos; no homem também se apresentam tais casos, que são zoomorfismos. De qualquer modo, estes não são os únicos modos de comunicação que funcionam, e é interessante ver como o homem pode transmitir informações ao seu cão através da linguagem.

ZOOMORFISMO E ANTROPOMORFISMO

No homem, o zoomorfismo mais evidente refere-se ao incitamento para brincar dirigido ao cão: o dono inclina-se ritmicamente, bate nos joelhos com as palmas das mãos, ou bate no chão com elas, e pode, inclusive, balancear-se sobre um e outro pé. Estas atitudes gestuais correspondem a uma postura parecida com a do cão que convida alguém a brincar com ele.
Do mesmo modo, o cachorro «imitará» as crianças com quem vive. Naturalmente, quando tenta iniciar uma sequência de jogo, o cão jovem pode pôr uma das patas dianteiras em contacto com o focinho e inclinar ligeiramente a cabeça. Mas, em seguida, o animal exagerá essa postura para conseguir um brinquedo ou comida, como o pode fazer uma criança. A reacção humana-cão põe a descoberto numerosos comportamentos desse tipo, que servirão para reforçar a qualidade dos laços entre animal e o seu dono.

MÍMICAS FACIAIS E POSTURA

Cão encantador com uma atitude quase humana. Arrebita apenas a orelha ou pede ao dono que lhe preste atenção?

O cão utiliza os movimentos da face para comunicar com os seus congéneres. Os grupos de músculos mais utilizados são os seguintes:

- A musculatura auricular permite o movimento das orelhas;
- A musculatura labial prvoca o movimento dos lábios;
- A musculatura palpebral (pálpebras modifica as dimensões dos olhos.

As mímicas faciais associadas às posturas corporais comunicam ao interlocutor o estado emocional do emissor e a sua classe social. Nos dominantes, o porte levantado das orelhas e o aspecto tranquilo do resto da face traduzem a sua posição elevada na hierarquia dos cães. Nos exemplares não tão «bem situados», os movimentos dos ângulos do olhos e dos lábios intervêm permanentemente. Em todo o caso, quando são agredidos, os cães dominantes também apresentam mímicas faciais que põem em jogo outros grupos musculares.
Embora mais subtil, o diâmetro pupilar, controlado pelo sistema neurovegetativo, é o sinal das emoções: quando as sensações são agradáveis, a pupila está completamente aberta; se são desagradáveis a pupila fecha-se.

Como estarão as pupilas da Pimpim, deitada confortavelmente num sofá?

27/01/2009

AS PERTURBAÇÕES DEVIDAS À ANSIEDADE DO CACHORRO - PARTE II

Além da ansiedade da separação, há outras três patologias que podem afectar o cachorro: a ansiedade de privação, enurese (micção involuntária) do cachorro em treino e a estereotipia. Estas quatro patologias têm em comum o papel fundamental que os donos nelas desempenham, sobretudo no bom desenrolar do tratamento.

Das quatro patologias de ansiedade do cachorro, a mais comum é a da separação.

A ANSIEDADE DE PRIVAÇÃO: O CACHORRO ASSUSTADO QUE JÁ NÃO QUER SAIR

Na escala de frequência, a ansiedade de privação, que está a aparecer cada vez mais, vem logo seguir à ansiedade da separação. Afecta os cachorros criados num meio menos rico em estímulos, como aquele em que vão viver com os donos. Incapazes de encontrarem um comportamento adaptado, os cachorros têm reacções emocionais de intensidade crescente, que vão desembocar na ansiedade. O seu comportamento motiva uma grave perturbação nas relações com os donos. De facto, muitas vezes estes não suportam a sua manifestação mais frequente - negativa do cachorro a ir a passeio.

O tratamento consiste na administração de psicotropos, complementados com uma habituação. Quanto mais precoce for a sua aplicação, tanto mais eficaz ela será. Os medicamentos utilizados têm por objectivo intensificar o comportamento exploratório, suprimindo ao mesmo tempo as reacções de medo. São precisos três meses para o cachorro recuperar um comportamento satisfatório.

A ENURESE: O CACHORRO URINA À MENOR REPRIMENDA

As crianças costumam sentir um grande afecto pelos cachorros. Mas o jovem dono deve saber dosear a ternura e a educação se quiser que o seu cão seja «normal».

As outras duas patologias de ansiedade que se encontram no cachorro estão relacionadas com a educação e o treino. Como é muito frágil no plano afectivo, qualquer aprendizagem requerirá ao cachorro uma relação tranquilizante baseada na paciência. Às vezes, os donos não a têm e querem resultados imediatos. Assim, põem em prática um programa de treino energético que prevê castigos e recorre à inibição como técnica para moldar o seu comportamento. O cachorro começa por se assustar e depois mergulha num estado de prostração permanente perante as sanções. As primeiras perturbações comportamentais aparecem com muita rapidez e correspondem a dois tipos de patologias possíveis.

Na primeira observa-se a perda de controlo esfincteriano, com enurese, em particular durante o sono. O cachorro acorda molhado. Ao princípio urina à menor reprimenda e em seguida a cada contacto com o dono. O repertório de posturas reduz-se; o cão mantém quase permanentemente as orelhas caídas e a cauda entre as pernas, por baixo de um ventre agalgado. Em geral, o dono não suporta estas manifestações, mas se punir as porcarias só conseguirá agravar a situação e aumentar rapidamente a frequência da enurese, que pode vir a ser acompanhada de encopresia (incontinência nocturna de matérias fecais).

Chama-se a esta patologia «enurese do cachorro em treino». Trata-se bem, desde que o dono aceite participar; o tratamento deve começar quando as perturbações aparecem. Limita-se a interromper os exercícios de trabalho e instaurar em seu lugar jogos e uma relação afectiva cordial. Depois reintroduz-se o trabalho entre os jogos e todo o treino será feito através de actividades lúdicas. Mas quando as perturbações estão já muito instaladas, deve-se associar à terapia medicamentos destinados a desinibirem o cachorro e a restabelecerem o controlo esfincteriano.

A ansiedade pode chegar a tais extremos que o cão não suporta andar na rua, nem sequer levado à trela. Todas as formas de patologia devida a ansiedade são difíceis de tratar, pelo que mais vale preveni-las com uma educação judiciosa.

A ESTEREOTIPIA DE IMPOSIÇÃO: AS FASES DE EXCITAÇÃO REPETIDAS

Na segunda forma, as situações de imposição criadas pelo treino levam ao aparecimento de curtas fases de excitação, durante as quais o cachorro repete constantemente a mesma acção: são as chamadas fases de estereotipia. Ao princípio, estas estereotipias permitem ao cachorro aliviar a tensão emocional. Mas ao fim de alguns dias a estereotipia instala-se de forma sistemática e altera consideravelmente as relações do cachorro com o seu meio. A acção de «se pôr às voltas para apanhar a própria cauda» é uma das mais frequentes. Na maior parte dos casos, o dono reprime essas fases de excitação, o que tem como consequência aumentar a sua frequência e degradar ainda mais as relações entre ele e o cachorro.

Como no caso da enurese, as «estereotipias de imposição» implicam a interrupção do treino e a sua substituição pelo jogo. O tratamento com neurolépticos desinibidores é eficaz.
Assim, estas duas últimas patologias devem ser alvo de uma prevenção inteligente, que consiste não em evitar o treino dos cachorros pequenos, mas sim em fazê-lo através do jogo. Se assim se fizer, o treino transforma-se em educação e o cachorro aprende e compreende o exercício.

AS PERTURBAÇÕES DEVIDAS À ANSIEDADE DO CACHORRO - PARTE I

A ansiedade é um estado patológico sempre invalidante para o animal, tanto no plano relacional como no plano orgânico. Actualmente, são cada vez mais frequentes os diagnósticos de estados de ansiedade no cachorro, e esta situação é muito preocupante.

Embora não se possa tratar deste tema sem abordar certos aspectos evocados por ocasião de uma patologia concreta (por exemplo, a síndrome de privação), aqui centrar-nos-emos na génese e na prevenção das perturbações relacionadas com a ansiedade.


QUATRO PATOLOGIAS

Em matéria de ansiedade, no cachorro podem definir-se quatro entidades patológicas bem caracterizadas e cujas designações são suficientemente indicativas da origem das perturbações.
Assim, podem descrever-se as estereotipias de imposição, a ansiedade de separação, a ansiedade de privação e a enurese do cachorro no treino.
É evidente que as causas da ansiedade do cachorro estão sempre relacionadas com um dos três tipos de circunstâncias seguintes: insuficiência de estímulos durante o desenvolvimento, ruptura dos laços de proximidade com o substituto materno ou situações de aprendizagem coercivas.

PARA EVITAR A PASSAGEM AO ESTADO PATOLÓGICO


No plano afectivo o cachorro é extremamente frágil, sobretudo entre as seis e as oito semanas. Durante este período, suporta muito mal a solidão e esta pode causar graves distúrbios emocionais ao cão jovem.

Antes de escrever os sintomas destas diferentes patologias convém insistir nos mecanismos que fazem passar o cachorro ao estado de animal psiquicamente patológico em cada caso.
Como todos os pequenos mamíferos, o cachorro estabelece laços chamados de vinculação com a sua mãe ou com o substituto materno humano. Os primeiros laços são de natureza afectiva e, nesse campo, os que se tecem com um substituto materno humano parecem ser mais fortes, por vezes, devido à própria demanda afectiva da pessoa em questão, que encontra imediatamente uma resposta favorável no cachorro. Por outro lado, as relações de vinculação têm uma grande importância social, pois graças a elas (que por sua vez são também o resultado) é que se produz o «imprinting», ou seja, a identificação do semelhante através da imagem da mãe. Assim o cachorro é muito frágil no plano afectivo; por conseguinte, qualquer carência ou ruptura desencadearão violentas desordens emocionais. A permanência da relação deve ser total durante as primeiras semanas (entre seis e oito) e o contacto físico sempre possível, para que o cachorro possa sentir-se seguro directamente. A presença constante da mãe também estabiliza quando começa a explorar o meio que o rodeia (a partir das três ou quatro semanas), pois constitui o ponto de referência indispensável em todas as tentativas de progressão para o exterior.

Durante os seus primeiros meses, o cachorro tem de poder sentir a presença permanente da sua mãe. Esta tranquiliza-o em todas as circunstâncias e, quando o pequeno manifesta certas veleidades de independência, ela continua a ser a sua indispensável guia.

Fica claro, por conseguinte, que a pessoa que deixa o cachorro de seis a oito semanas só durante todo o dia lhe provocará uma crise afectiva muito violenta, se não tiver havido uma aprendizagem inteligente. A fragilidade afectiva e emocional tornam o cachorro muito sensível a qualquer agressão directa, se esta não ocorrer num contexto hierárquico claro. É tão recomendável corrigir sem contemplações o cachorro de oito semanas que procure apoderar-se da comida, como é nefasto castigar o animal que cometeu um erro durante a aprendizagem - ir preso pela trela, chamada, limpeza (no sentido humano) - porque isso provoca nele uma reacção de angústia muito patogénica. Há que insistir em dois pontos que se colocam em particular a propósito dos castigos e das recompensas, assim como da aprendizagem da limpeza; tratando-se de um cachorro, seja qual for a educação, esta deverá ser feita através da brincadeira e, no que se refere mais especificamente à limpeza, deve ser feita de maneira positiva e não negativa, isto é, deve mostrar-se ao jovem animal o que ele deve fazer e não castigá-lo (muitas vezes tardiamente) quando cometeu um erro. Submetido a uma angústia afectiva, o cachorro apresentará mais tarde fortes reacções emocionais, tanto comportamentais (inibição, estereotipias, agressão por medo directa ou redirigida) como fisiológica (principalmente micção e/ou defecação por medo, às vezes vómitos), e o seu equilíbrio psíquico ficará rapidamente comprometido.

Embora o cachorro deva ser tratado com delicadeza, isso não quer dizer que pode fazer todas as travessuras possíveis sem nunca ser posto no seu lugar. A sua fragilidade não lhe dá direito de ir meter o nariz em todo o lado.

Parte II: ansiedade de privação; enurese e estereotipia de imposição

25/01/2009

AS DEPRESSÕES DO CACHORRO - PARTE II

A depressão de abandono pode afectar o cachorro pequeno logo na primeira semana de vida; demasiado quieto, incapaz de ter qualquer contacto físico, não brinca e os ruídos põem-no em pânico. O tratamento, que dura seis a oito meses, combina quimioterapia e terapia cognitiva e deve começar o mais cedo possível.

A depressão de abandono é uma das mais graves patologias que podem afectar o psiquismo do cão. É também a que se manifesta mais precocemente, uma vez que os seus primeiros sintomas podem ser observados logo na primeira semana de vida. Assim, é essencial prevenir a doença ou, se tal não for possível, atalhá-la com a maior rapidez.

UM CACHORRO DEMASIADO TRANQUILO OU ASSUSTADO

É costume os cachorros que sofrem de depressão de abandono serem levados à consulta demasiado tarde. Como são tranquilos e não cometem nenhuma das travessuras típicas da infância canina, os seus donos não vêem razão para os levar ao veterinário. E no entanto, dada a sua sintomatologia característica, a depressão de abandono diagnostica-se sem dificuldade. A aparente tranquilidade do cachorro, que se mexe pouco e não é facilmente estimulado pelo meio, pode ser o primeiro sinal de alarme. Mas o que é de acto decisivo são os seguintes cinco sintomas:
  1. Impossibilidade de criar qualquer laço com o olhar (o cachorro está sempre a desviar os olhos);
  2. Imobilidade total da face, com ausência das mímicas faciais emocionais características da espécie;
  3. Impossibilidade de contacto físico, que leva os cachorros a uivarem quando se lhes pega ao colo (mantendo a face inexpressiva);
  4. Hipersensibilidade aos ruídos, que na maior parte dos casos desencadeiam reacções de pânico;
  5. Total ausência de sequências de jogo.
Além destes existe ainda um outro sintoma, que os donos bem informados detectam logo no nascimento: a anorexia. Os recém-nascidos recusa-se a mamar e têm de ser alimentados a biberão. Embora a anorexia pareça desaparecer espontaneamente em cerca de quatro semanas, o apetite dos cachorros nunca é muito grande e o seu crescimento é inferior ao normal.

Embora deixe o dono em paz, o cachorro que não brinca, que passa horas inteiras no seu cesto sem se interessar por nada o que acontece à sua volta e ao qual se tem de enfiar comida pela boca abaixo para se alimentar, tem um comportamento absolutamente anormal. É fundamental intervir de imediato se se quiser que o animal venha a ter uma vida normal

A DECEPÇÃO DOS DONOS

É raro que todos estes sintomas levem a procurar o veterinário. Em geral, estes cães só são levados à consulta entre os seis e os oito meses, pois é impossível levá-los à rua e todas as tentativas nesse sentido acabam numa crise de pânico e no regresso apressados a casa. Neste estádio, há que fazer um diagnóstico diferencial da síndrome de privação.
O veterinário deverá estar muito atento, pois, como é difícil criar um laço com estes cachorros, os donos costumam sentir uma certa decepção afectiva que pode levá-los a renunciarem a tratar um cão que, afinal de contas, «não vale a pena».
Em qualquer caso, o tratamento exige muita paciência e uma grande confiança do veterinário. De facto, os primeiros resultados latentes não se revelam antes das seis a oito semanas posteriores ao início de cura e é durante este período que se dão os fracassos, devido à desistência dos donos.

UMA TERAPIA BEM COMPREENDIDA: OS MEDICAMENTOS E O JOGO

Este tratamento baseia-se na associação quimioterapia-terapia cognitiva. Num primeiro tempo, o animal é apenas medicado com ansiolítico e um antidepressivo não sedativo, graças aos quais poderá interagir com o seu meio e captar informações sem reagir com medo.
A terapia cognitiva inicia-se quando aparecem indícios de comportamento exploratório. Esta consiste principalmente no jogo, um dos principais factores de elaboração cognitiva em todos os mamíferos. Durante os jogos tentar-se-á provocar contactos físicos abertos com o cachorro. Por outras palavras, quando o animal vier ao contacto com os donos, estes nunca devem pegar nele, apenas lhes passarão os braços em volta quando ele prolongar o contacto por sua própria iniciativa. Devem ser associados a jogo, objectos que façam ruído.
Por último, e está nisto o seu principal interesse, os jogos ensinarão o cachorro a utilizar o corpo para comunicar.
Assim que se instalar um contacto físico bem definido com o dono, provocam-se situações de imposição, que só suprimem «a troco» de algum gesto ou postura. É assim que o cachorro vai adoptar os rituais de comunicação.
Na prática, sempre que se aplicar e respeitar o tratamento, o dono verá estabelecer entre ele animal e o animal uma relação muito forte, de uma intensidade muito maior do que com outro cão qualquer.

Quando não for possível evitá-la, a depressão do cachorro trata-se sobretudo com uma terapia baseada no jogo.
A PREVENÇÃO

Para o criador, a essência da prevenção está na escolha das fêmeas reprodutoras, que não devem ser demasiadas jovens e, acima de tudo, têm de estar perfeitamente socializadas.
Se se recusarem a ocupar-se dos seus cachorros, os criadores (os pais de substituição) têm de ter presente que o cachorro não só necessita de comida como também de contactos, estímulos e acima de tudo de afecto.

22/01/2009

AS DEPRESSÕES DO CACHORRO - PARTE I

Para o cachorro se tornar num adulto equilibrado, é indispensável proporcionar-lhe boas condições de desenvolvimento. A falta delas poderá originar-lhe graves depressões e, mais tarde, longos e inúteis sofrimentos.

Ainda que raras, felizmente, as depressões do cachorro são sempre graves. Uma vez que afectam um organismo em pleno desenvolvimento físico e psíquico, acarretam dificuldades que são muito sérias para o futuro adulto. As primeiras semanas de vida de qualquer cão são marcadas pelo desenvolvimento neonatal do tecido nervoso, bem como pela carga em memória das características sensoriais do meio. Este verdadeiro banco de dados permitirá ao adulto «filtrar» as informações provenientes do exterior sem que o seu organismo tenha de estar sempre a reagir, esgotando-se. Essa função, que possibilita a selecção dos estímulos, chama-se homeostase sensorial e é graças a ela que o animal consegue manter o seu equilíbrio psíquico e emocional.

É da qualidade dos vínculos que unem à mãe (e por vezes com o pai como é o caso da "Canopa" na imagem) que em grande parte depende a estabilidade emocional do cachorro. A cadela é não só o referente morfológico a partir do qual o jovem elaborará a imagem do congénere como também o guia indispensável para dar os primeiros passos na vida.

DAS FOBIAS À DEPRESSÃO


O cachorro criado num meio muito pobre em estímulos é incapaz de se adaptar correctamente a um meio normal. Se for submetido a estímulos completamente novos para ele, pode ter reacções emocionais que perturbam todos os sistemas de controlo. A repetição desses estímulos engendrará respostas de crescente intensidade, que se traduzem na desorganização das reacções comportamentais; diz-se então que há uma «sensibilização».
Se a quantidade de estímulos desconhecidos não for demasiado importante, o animal desenvolverá fobias e mesmo ansiedade. Mas se essa quantidade for elevada ou se a repetição das situações desconhecidas for demasiado frequente, pode cair num estado depressivo. Ao princípio, este é uma reacção de protecção do sistema nervoso, mas o contexto patogénico leva-o espontaneamente a um estado depressivo irreversível, surgindo uma síndrome de estádio 3.

A DEPRESSÃO DE ABANDONO

Há outros dois dados que são essenciais ao desenvolvimento harmonioso do cachorro; o amor materno e a impregnação. Entre o cachorro e a mãe estabelecem-se laços afectivos muito poderosos, que têm sobre ele um papel de estabilizador emocional. Esta relação faz com que ele se sinta seguro perante o meio.
Além disso, a mãe é o referente morfológico a partir do qual se faz a impregnação, entre as três e as oito semanas. A imagem do congénere e, por conseguinte, a da futura companheira sexual constroem-se a partir da forma materna (olfactiva, visual, táctil, etc.). É a mãe que inspira, guia e inicia as mímicas emocionais, a comunicação e a vida social.
Por conseguinte, a ruptura ou a inexistência desse amor implica carências importantes no equilíbrio do cachorro e, devido à falta do indispensável ponto de referência, impede qualquer interacção dele com o meio e, por isso, toda a possibilidade de uma homeostase sensorial correcta.

O cachorro privado da mãe demasiado cedo não tem qualquer ponto de referência; por isso, não conhece as regras da comunicação, que não pôde aprender. Talvez seja o caso do Nevão, que é a viva imagem do desamparo.

O mais grave é que esta ausência de comunicação isola por completo o cachorro do exterior; como não pode emitir mensagens, é constantemente agredido por perturbar os outros e não saber como inibir a sua agressividade, como, por exemplo, através da submissão.
Esta patologia, que se chama «depressão de abandono», é uma das mais graves de que pode sofrer um cão. O tratamento é longo e difícil e escassas as possibilidades de cura. Por isso é que a prevenção destas doenças comportamentais se deve tornar o objectivo primordial de todos os criadores.

20/01/2009

O DESENVOLVIMENTO DO CACHORRO

A socialização é a aquisição pelo cachorro dos sistemas de regulação comportamental indispensáveis à vida em sociedade. Se essa aquisição não se puder fazer, o cão sofrerá de desequilíbrios importantes.

Para puder regular as suas relações emocionais e os seus comportamentos em sociedade, o cão jovem tem de aprender a comunicar, a inibir-se e a reconhecer as situações hierarquicamente significantes. É esta terceira fase do desenvolvimento comportamental do cachorro que se chama socialização. Saber como ela se faz quando o cachorro é criado por cães deveria facilitar o seu correcto desenvolvimento nas famílias humanas.

O CACHORRO COM OS CÃES

Uma aprendizagem centrada no alimento


A socialização inicia-se passado o período de transição que marca o fim do desenvolvimento anatómico e histológico do sistema nervoso. Neste estádio, a cadela inicia o desmame progressivo dos cachorros oferecendo-lhes alimentos regurgitados. Por volta das cinco ou seis semanas, quando eles já são capazes de absorver a mesma comida que ela, a mãe leva-os para junto da matilha. É aí que vão viver o início da hierarquização, centrado no alimento.
Numa primeira fase, os cachorros respondem à fome tentando apanhar a comida disponível.
Os machos adultos ameaçam-nos e ensinam-nos a inibir-se e a esperar que chegue a sua vez.
Nestas circunstâncias, ao brincarem com os seus irmãos e irmãs os cachorros servem-se de posturas assimiladas e experimentadas entre as três e as seis semanas. Esses jogos são fundamentais para a socialização, pois permitem o estabelecimento dos rituais; assim, por exemplo, o cachorro que perde num simulacro de combate aprende a deitar-se de costas para interromper a luta. E frente ao cão adulto que o castiga acompanhando-o pela pele do pescoço, o cachorro cede e tenta deitar-se de costas. Então, o adulto pára de o castigar, o que lhe dá a compreender a vantagem de adoptar essa postura.

Dominar a força das mandíbulas


Do mesmo modo, o cachorro tem de saber dominar a força das suas mandíbulas. Estas permitem-lhe estabelecer todo o tipo de contactos com os seus congéneres. Por volta das cinco semanas (sete ou oito nas raças gigantes), o cachorro aprende o que se chama «mordedura inibida». Quando brinca com os outros cachorros ou com os adultos, mordisca com os seus dentes de leite, que são muito afiados. Como a congénere gane ou contra-ataca quando a mordedura atinge uma intensidade demasiado grande, o cachorro vê-se obrigado a aprender a controlar a força do seu contacto.Terá de aprender a morder afectuosamente, a apanhar uma parte do corpo do congénere sem lhe dar a sensação de apertar, a morder para remeter ao seu lugar um subordinado sem lhe provocar um ferimento sério, e também a morder para fazer mal, para matar.


A marginalização dos machos jovens

Uma vez assimilada a hierarquização no acto de se alimentarem, os machos e as fêmeas jovens seguem caminhos diferentes.
Os machos jovens têm um final de socialização mais bruscos, que implica o abandono do ninho.
Aos três ou quatro meses a mãe começa a tolerá-los cada vez pior, brinca cada vez menos com eles, lambe-os menos e adopta mais facilmente com eles comportamentos de agressão irritada. Quando chegam à puberdade (dos cinco aos sete meses nas raças de tamanho médio), a mãe, que sente as suas emissões de feromonas sexuais, deixa de aceitar os contactos físicos. A crise culmina com uma série de confrontos curtos, no quais o macho dominante se alia à mãe para expulsar os jovens machos; fala-se de marginalização porque os jovens passarão a viver na periferia do território da matilha.
Esta ruptura é indispensável para o bom desenvolvimento comportamental dos cachorros; se não se desse, poderiam sobrevir perturbações de sobre-dependência. Chama-se dependência ao conjunto dos laços sócio-afectivos entre a mãe e os cachorros; a ruptura desses laços constitui o abandono.


A competição mãe-filha

As fêmeas permanecem no ninho durante mais tempo, em parte porque estão inibidas pelas feromonas da mãe e alguns dos comportamentos desta e depois porque segundo parece, o primeiro cio não quebra os laços. Mas a partir do segundo cio surge a competição entre a mãe e a filha pela atenção dos machos dominantes e podem ambas acabar por entrar em luta uma com a outra.

NA FAMÍLIA HUMANA

O cachorro que vai para uma família humana às seis a oito semanas fica impregnado da espécie humana mas terá as mesmas etapas de desenvolvimento.
Ora bem, o mais frequente é deparar com uma sociedade que não sabe respeitar as exigências da sua socialização e põe as relações afectivas acima de tudo. Assim, a hierarquização centrada no alimento corre mal; os donos pensam que o cachorro tem fome e que deve alimentar-se bem, pelo que lhe dão de comer sempre que ele pede. Também não lhe reprimem as mordidelas porque não compreendem os indispensáveis rituais que lhes estão associados.
A situação chega ao cúmulo de o macho adolescente continuar a receber carícias de cachorrinho e passa a dormir na cama da dona.
São estes erros involuntários e bem intencionados mas muitos comuns, que estão na origem de muitos desequilíbrios comportamentais.

15/01/2009

V-CONGRESSO HOSPITAL VETERINÁRIO MONTENEGRO

Nos dias 17 e 18 de Janeiro de 2009 o Hospital Veterinário Montenegro irá realizar no Europarque de Santa Maria da Feira o seu V Congresso, o qual terá como tema Gastroenterologia.

Como participante dos últimos 4 congressos organizados pelo Hospital, confesso que é actualmente, um dos melhores no nosso país, tanto pela organização, como pela qualidade dos palestrantes.

Agradeço gentilmente o convite para este congresso que a Bandarravet recebeu do laboratório NOVARTIS.

Este ano, o tema em causa nas inúmeras alterações nutricionais e patológicas associadas será de extrema importância no nosso dia-a-dia em veterinária.

14/01/2009

A SOCIALIZAÇÃO DO CACHORRO

No cabal desempenho da tarefa de um criador não basta a entrega ao cliente de um cachorro correctamente desmamado, alimentado e cuidado. O seu bom estado físico deve ser acompanhado de um bom equilíbrio psíquico; acima de tudo, o cão é um animal de companhia e nunca se insistirá bastante em como é essencial o seu carácter.

O temperamento do cão é influenciado por dois factores: a hereditariedade, que determina «o inato», e o meio ambiente e a educação, dos quais depende «o adquirido». Muitas vezes, as experiências que ele tem durante as primeiras semanas de vida condicionam todo o seu comportamento de adulto. Por isso, recai sobre o criador uma responsabilidade considerável.

UM MOMENTO CRUCIAL: A QUARTA SEMANA

Todos os sentidos do cachorro despertam ao vigésimo primeiro dia, idade que o norte-americano Campbell - autor de uns testes famosos - considera crucial para a sua socialização. Depois dessa idade, pode-se estimar que a quarta semana de vida é muito importante, pois é durante esse curto período que os cachorros descobrem o mundo.
O papel do criador nesse momento é crucial. Já não se pode limitar a limpar o local e encher os comedouros. Tem de se ocupar dos cachorros, participar nas suas brincadeiras e de falar com eles. É este o melhor meio de os familiarizar com o homem. A tarefa nada tem de aborrecido, pois nessa idade os cachorros são umas tais «fofuras» que é difícil deixá-los.

"Bruna da Terra do Bandarra" de nome familiar Zola, uma cadela Chow Chow da minha criação

ASSEGURAR O DESENVOLVIMENTO FÍSICO DOS CACHORROS

Quando os cachorros começam a andar têm de ser tirados da caixa do parto (ou suprimir os rebordos desta) para se poderem mexer e fazer exercício.
Está comprovado que existe uma enorme diferença entre os cachorros que contam com um parque para se moverem à vontade e os que ficam confinados demasiado tempo a um espaço reduzido. Os primeiros desenvolvem-se harmoniosamente e são vivos, alegres e curiosos. Os segundos costumam ficar muito gordos por causa da falta de exercício, e, como a sua musculatura se atrofia, pode acontecer que as patas não aguentem o peso do corpo e se entortem; além disso, são animais moles, pouco despertos e por vezes medrosos.
Os cachorros não só devem dispor de um recinto suficientemente amplo, como também da luz do dia e de sol (indispensável para a formação dos ossos), além de um espaço vital que seja absolutamente limpo e salubre.

Zola, na descoberta de objectos, sempre vigiada pelo pai Avalon

FAVORECER O DESPERTAR

Além destas preocupações de base, pode-se favorecer o despertar dos cachorros pondo à sua disposição diversos objectos (pequenos túneis, esconderijos, bolas, brinquedos para morder). Compete então ao criador estar atento aos cachorros como uma mãe com os seus filhos e procurar fazer com que não haja ao seu alcance nenhum produto tóxico nem nenhum objecto que eles possam engolir (inteiro ou em bocados), etc. Da quarta à sexta semana, o criador começa a conhecer cada um dos seus protegidos. Terá de dedicar uma atenção especial aos que parecem mais timoratos e até mesmo de os levar a passar bocados dentro de casa. O contacto com as crianças pode fazer-lhes muito bem.
Também é importante os cachorros familiarizarem-se tão cedo quanto possível com os ruídos fortes ou insólitos (motores de veículos, obras, corta-relvas, buzinas, etc.). Não se trata de os «atordoar» com estímulos exteriores permanentes, mas sim de os habituar tão depressa quanto possível aos contactos humanos e às situações correntes da vida. Deste modo, ser-lhes-á depois mais fácil sentirem-se bem em qualquer circunstância.
Registe-se também que o cachorro que tem a possibilidade de se desenvolver psíquica e fisicamente cresce melhor, come melhor e, por conseguinte, torna-se mais robusto resistente. É esta a diferença entre o cachorros criados em condições sanitárias e afectivas perfeitas e os que «tratadores de cães» pouco escrupulosos vendem. Os segundos expõem-se a sucumbir ao primeiro vírus ou a sofrerem para toda a vida as consequências de um mau começo.

Zola e Pimpim

O MELHOR MOMENTO PARA ENTREGAR O CACHORRO

O criador sério está quase certo de poder satisfazer os seus clientes e até pode permitir-se oferecer garantias bastante amplas. É uma vantagem suplementar para a reputação, a sua imagem de marca. Resta saber a partir de que momento o criador pode considerar que «cumpriu o contrato» e planear a saída dos cachorros. Campbell considera que o momento ideal para entregar o cachorro é aos quarenta e nove dias de vida. Esta e também a idade que propõe para o seu texto. Mas na realidade tudo depende das raças. Considera-se que o cachorro pode abandonar o criadouro logo que for completamente autónomo e estiver suficientemente protegido pelas vacinas. Em geral, essas condições estão preenchidas às sete oito semanas do animal.
Mas é frequente surgir um problema, o do «cachorro que não conseguiu vender», o qual pode ficar mais tempo, por vezes até aos cinco ou seis meses. É essencial que o criador apesar de ter a seu cargo um grupo numeroso lhe dedique a atenção e o tempo que forem precisos para o confrontar com o mundo exterior (passeios de carro, contacto com cidade e as pessoas) antes dos três meses, e que repita essas saídas todas as semanas até ele partir. É o único meio de evitar que o animal adquira o típico carácter medroso do «cão de canil». É frequente os compradores não quererem adquirir cães com seis meses. Ficam mais «deslumbrados» com uma pequena bola de pêlos do que um cão quase adulto. Além disso, consideram que o cachorro se adapta e se educa tanto melhor quanto mais pequeno for, o que nem sempre é verdade. Pode-se comprar um cão de dois meses que será «mal educado» toda a sua vida, ao passo que um exemplar de mais idade pode adquirir bons hábitos em poucas semanas ou mesmo dias se o dono se der ao trabalho de o educar. Na realidade, o animal é sempre receptivo a uma educação coerente quando não tiver recebido outra.
Comprar um cachorro já crescido também pode representar uma vantagem interessante, sobretudo para o criador ou o expositor; tem-se uma ideia mais clara da sua conformidade com o estalão e pode-se examinar-lhe a dentadura, o carácter ou os andamentos. E como é evidente, o criador terá muito mais possibilidades de convencer o cliente com estes argumentos se lhe apresentar um exemplar manifestamente equilibrado e não um animal morto de medo e encolhido a um canto. Seja qual for a idade dos cães, o criador tem de procurar sempre vendê-los a pessoas sérias e motivadas.

Zola, no dia da despedida para os seus novos donos, a eles continuarem a socialização

12/01/2009

MATERNIDADE: AS PERTURBAÇÕES DO COMPORTAMENTO MATERNO - PARTE II

O comportamento materno da cadela resulta de mecanismos de aprendizagem, que apenas afecta as cadelas equilibradas no plano emocional e que tenham tido uma socialização correcta.

Quanto menos se reunirem todos estes factores na cadela, mais comprometida ficará a educação e sobrevivência dos seus cachorros. O grande número de cachorros afectados por perturbações comportamentais precoces está directamente relacionado com alterações das condições de desenvolvimento das mães. Vamos agora descrever essas perturbações por ordem crescente de gravidade.

AS MÁS MÃES

A menos importante de todas elas, e também a mais facilmente curável, é a das cadelas que os criadores qualificam de «más mães», devido à baixa percentagem de sobrevivência das ninhadas que elas têm. A observação verifica-se tratar-se de fêmeas multíparas (que já tiveram várias ninhadas), cujo comportamento materno é o de cadelas primíparas (que estão na primeira ninhada).
Assistem mal os cachorros quando estes nascem e não sabem como fazer para lhes cortar o cordão umbilical, não lhes provocam com a frequência necessária a eliminação de urina e das fezes, controlam mal a temperatura dos cachorros, em resumo, não cuidam da sua progenitura. No entanto, o progressivo desaparecimento dos cachorros afecta-as e é frequente ver essa mães procurarem freneticamente as crias, lamentando-se.
Quando se estuda o passado destas cadelas, verifica-se que se trata de cadelas que não tiveram contacto com outras fêmeas e cujos partos foram sempre assistidos pelo homem. Devido a isso, não pôde fazer a aprendizagem dos cuidados que devem prodigalizar os cachorros nem pela imitação de cadelas com experiência, nem por treino progressivo (shaping), por não se ter querido que o animal se apercebesse que os filhos morriam por causa da sua inabilidade.
Esta é uma forma clínica de bom prognóstico, embora a sua evolução espontânea suponha o agravamento se não mudarem as condições de maternidade.

AS ANOMALIAS MAIS GRAVES

Hoje em dia é cada vez mais frequente observar cadelas que não têm nenhuma relação afectiva com os cachorros e manifestam comportamentos de medo que podem chegar até à agressão. Finalmente, estas fêmeas não têm qualquer comportamento de nidificação (em geral, é-lhes difícil acasalar, por vezes mesmo impossível, e a fecundação talvez só seja possível mediante inseminação) e o parto pode trazer dificuldades: não fazem qualquer esforço para expulsarem os cachorros e largam-nos por toda a casa. Os filhotes assim dispersos mal têm possibilidade de sobreviver, a não ser que o dono da cadela se ocupe deles. Quando a obrigam a cheirar ou lamber os filhotes, pode acontecer que morda, também desta vez, por medo. Além disso, nega-se à dar-lhes de mamar.

Se o homem intervém para salvar os cachorros, estes apresentarão perturbações comportamentais graves por culpa da mãe, em particular depressão de abandono, uma das patologias comportamentais mais sérias do cão.

Paola, rejeitada totalmente pela mãe

Todas as cadelas que apresentarem anomalias comportamentais deste tipo são animais cuja impregnação de aprendizaem (mediante a qual o animal aprende, entre as três e as oito semanas, a reconhecer os seus congêneres) se fez mal, ressentindo-se por isso à sua socialização. Tais fêmeas não se identificam com a espécie canina e não sentem absolutamente nada pelos cachorros. É frequente tratar-se de animais adquiridos demasiado cedo pelos donos, que talvez tenham sido criados a biberão e cuja impregnação se fez em relação à espécie humana. O prognóstico desses casos é reservado.


O CANIBALISMO

A estes dois quadros clínicos costuma-se juntar-se o canibalismo, que se define como uma aberração clássica do comportamento materno. Na realidade, trata-se de um acidente que pode ocorrer nos dois casos acima citados.
Nas cadelas inexperientes, o canibalismo desencadeia-se muitas vezes por um corte mal feito do cordão umbilical, que provoca a ruptura da parede abdominal do cachorro e, por conseguinte, uma chaga grande que a mãe lambe.
Nas cadelas que tiveram um má impregnação em relação à espécie canina, o canibalismo costuma surgir como consequência de um comportamento de agessividade provocado pelo medo que a presença dos cachorros lhe faz.

A terapêutica destas perturbações é sempre longa e difícil. No primeiro caso, procurar-se-á favorecer a imitação pondo as cadelas inexperientes junto de cadelas experientes e permitindo-lhes depois fazerem sozinhas o parto.

Nas cadelas que apresentarem perturbações do desenvolvimento, a terapia é mais incerta. Na medida em que obriga a recriar as condições de uma socialização que possa remediar as carências registadas, terá de ser longa. Alias, é frequente não se encontrar nenhuma solução, e nesses casos os elementos mais incontroláveis costumam ser a paciência e a necessária compreensão dos proprietários.

Dolly, uma cadela que apresentou problemas de socialização graves, tendo sido o parto assistido na Bandarravet, e reforçado o shaping, até poder cuidar dos cachorros, sozinha.

09/01/2009

FOTOGRAFANDO A NEVE...

O tempo anunciava a neve, lentamente, ao ritmo lento da descida gradual da temperatura que se fazia sentir... actualmente a hora que escrevo este post (22.00) estão 7ºC negativos. Os meteorologistas devem ter os termómetros obsoletos, ou postos perto de um aquecedor, pois há vários dias que somos fustigados pelo frio, qual quê? 4ºC; 0ºC, isso é que era bom!
Começou a nevar pelas 15.00 sem interrupção. Escusado será dizer que está tudo branco.
Daqui pouco vou sair, a pé, claro, porque as estradas estão intransitáveis.

Fotografar, o belo, o gélido, Trancoso "by night"...Vou dar o gosto ao dedo, pois só no Natal pude-me oferecer a minha prenda referente ao meu hobby, a fotografia, um tripé que me possibilita tirar proveito de fotos, à noite...

Enquanto esperam pelo meu regresso, ficam já algumas fotos... a partir da Bandarravet. Disfrutem e cliquem na fotografia, pois irei presentear os meus leitores, sem reduzir as mesmas.





E lá vou eu com 3 pares de meias; o pijama debaixo das calças, 3 camisolas, casaco, gorro e cachecol... ;) pois é, com o frio não se brinca!

Até mais logo.

Pois bem, cheguei a 1.30 da manhã. Aqui vão algumas fotos de Trancoso, numa noite gélida onde apenas me cruzei com uma pessoa. Porque será?

Jardim do Bairro do Sr dos Aflitos

Convento dos Frades

Convento dos Frades

Convento dos Frades

A caminho das Portas d´El Rei

O nosso Profeta Bandarra, nem o frio ou neve o incomodam!

Uma vista lateral do castelo

Ladeando as muralhas

Portas do Prado

Continuando pelas muralhas

Lugar do mercado

Lugar do mercado

Famoso cruzamento, Portas d´El Rei ou direcção Lamego/Meda?

Regresso à Bandarravet, em frente ao Parque (a protecção civil já andou a meter sal!)
Mais 1.5Km!!!

Ao fundo, à direita, Bandarravet!

Minha companheira da noite, entre os pinheiros, a Lua!

Cheguei, agora, ao quente!


Acordamos assim,

Está na hora de soltar um pouco os meninos da Bandarravet,

Pimpim: bolas...isso é frioooooooooo

Avalon

Jedy e Pimpim

(quem será?)

Friorenta... Pimpim tu achas que aí está mais quentinho?

Os manos, Jedy e Jord

Avalon, sai daí...

Hummm, é boa a neve...

E pronto, é óbvio que a Bandarravet esteve encerrada. Resta-me estar por aqui na papelada e cuidar do meu internado "chichas"!



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