28/02/2009

SPIDERMAN DE FÉRIAS






O meu franjino (franjin: irmão, em francês; "ino", diminutivo em "portuga"), Patrick, está de volta! Chega de madrugada e ficará até ao dia 6 de Abril.

Sabem bem o valor que o meu mano representa para mim e por isso a alegria que terei na presença dele. Acredito e sinto plenamente, uma verdadeira lufada de ar fresco nos próximos tempos!

Em contrapartida, os afazeres quotidianos irão entrarem modus "de retrogradação", ou seja poderão ocorrer atrasos no blogue, emails, messenger (para os clientes e amigos) e outras formas de comunicação. Iniciarei uma nova actividade extra curricular também, que me ocupará parte do meu tempo.

No blogue e uma vez que entramos num novo mês, e como o assunto a tratar está decidido, será também um mês desafiante mas por outro lado, um trabalho acrescido de edição. Esperem que continuem a gostar, pois serão revelados casos clínicos, reais e de enorme valor preventivo para os próximos tempos.

Continuarei, com o mesmo empenho, de forma mais energética, pois o meu mano, de signo solar, Leão, terá a sua boa e constante dose de energias positivas a partilhar comigo. A dupla "manos maravilha" em sintonia.

Por isso, mano, não percas o avião que dentro de horas estarei no aeroporto para te receber!


26/02/2009

LEARN TO BE


Imagem elaborada pela minha amiga e designer, Bruna

Não é a própria vida, uma constante aprendizagem?

Obrigado amiga

25/02/2009

O CÃO NA OBRA DE LA FONTAINE


Brifaut, Miraut, Rustaut... Nas fábulas de La Fontaine, os cães têm um papel importante, embora não o principal. De facto, o cão aparece no título de uma dezena de fábulas, mais ou menos conhecidas.

A mais famosa é sem dúvida O lobo e o Cão, na qual se põe em evidência tudo o que opõe estes dois irmãos inimigos. Um lobo enfraquecido se encontra com um robusto molosso. Como não se atreve a atacá-lo, faz-lhe uma série de cumprimentos sobre o seu bom aspecto. O cão convida-o então a levar a mesma vida que ele. É tão convincente com a descrição que o cão faz dessa vida que o lobo se declara imposto a segui-la. Mas de súbito repara que no pescoço pelado pela coleira do seu interlocutor. Ao compreender que a comodidade implica a privação da liberdade, «o lobo largou a correr e ainda hoje continua a correr».

O Lobo e o Cão Magro é uma fábula menos conhecida. Mostra-nos um lobo que tenta apoderar-se de um cão esquelético. Este aconselha-o a esperar que engorde para comer. Mas quando o lobo regressa a casa está guardada por um impressionante mastim que o obriga a fugir.

NÃO FORCEMOS O TALENTO...


Em três fábulas o cão aparece curiosamente ao burro. Em O burro e o Cãozinho, um burro, ciumento dos mimos que o dono prodigaliza ao seu cãozinho, decide fazer como este. Infelizmente, o dono não acha graça nenhuma ao contacto dos cascos do burro e dá-lhe umas boas pauladas.
A fábula começa com uns versos famosos que em França se transformaram em provérbio:

Não forcemos o talento, que nada serviria.

O Burro e o Cão é uma fábula sobre o tema da solidariedade. O burro não quer ajoelhar-se para que o cão possa tirar a comida que leva na taleiga que carrega. Ao aparecer um lobo, o cão nega-se a defender o burro e este é morto.


Muito diferentes são Os Dois cães e o Burro Morto.
Dois cães vêem o cadáver de um burro que o rio arrasta. Um deles é de opinião que têm de beber toda a água para secar o rio e poderem apoderar-se da carcaça Um trabalho tão desmedido que lhes custa a vida. E La Fontaine conclui:

De todos os animais, o cão é tido por cuidadoso e fiel ao seu dono; mas é um tolo e um guloso.


O Granjeiro, o Cão e a raposa é uma fábula mais complexa. Uma raposa consegue introduzir-se num galinheiro e causa uma verdadeira hecatombe. Quando o granjeiro vê o que se passou, apanha o cão e injuria-o de «maldito animal» por não ter sabido impedir a carnificina. O cão responde-lhe: não é ao homem que compete velar pelos seus bens?
Porque ele é que não tem nada a ganhar. «Este animal falava com muito tino», diz o fabulista. Mas o granjeiro deita-lhe as culpas e enche-o de pancada.


Em O Cão que Leva ao Pescoço o Jantar do Dono, são vários os que aparecem em cena. Um deles «põe ao pescoço o jantar do dono». É atacado por um mastim que lho quer tirar e o cão atacado põe a comida no chão, para melhor defender.
Então chegam mais cães, contra os quais não pode lutar sozinho e deixa-lhes o jantar do dono, não sem antes abocanhar o seu bocado. Finalmente, «todos se atiram» e La Fontaine compara esta cena com as relações que se estabelecem entre os homens: o homem honrado acaba por ser como todos os outros.

O Cão a que Cortaram as Orelhas continua a ser actual. Nesta fábula, um cão chamado Mouflar queixa-se da mutilação que lhe fizeram até ao momento em que repara que assim apresentará menos o que filar aos cães com o quais lute. Mas então expõe-se a que eles se lhe atirem o pescoço, pelo que Mouflar acabará por pôr uma grande coleira para se proteger.

...E NÃO DEIXEMOS O CERTO PELO INCERTO


O Cão que Larga a Sua Presa por Um Reflexo é um título que se tornou proverbial, embora nesta fábula o que faz com que o cão largue a presa seja a sua imagem reflectida na água que está prestes a afogá-lo. Por seu lado, os cães que aprecem em O Galo e a Raposa são imaginários. Nesta conhecida fábula, uma raposa tenta convencer um galo a descer do ramo em que se encontra pousado...para o abraçar.
O galo, que se apercebe da armadilha, diz-lhe:

Avisto dois lebréus, que, ao que vejo, são correios para este assunto enviados; vêm depressa e logo estarão aqui, eu desço e assim nos abraçaremos todos.

Acreditando nisto, a raposa foge e o galo diz, todo contente:

Ah, o prazer é a dobrar quando se engana o embusteiro.

Em O Lobo Convertido em Pastor, o cão de Guillot, o pastor, dorme perto do seu dono; mas despertará a tempo de vencer o lobo.
Por toda a obra do fabulista aparecem cães, em geral como inimigos do lobo. Em Os lobos e as Ovelhas, os lobos não respeitam a trégua e estrangulam os cães.
Para La Fontaine, o cão é verdadeiramente a antítese e o adversário do lobo, um tema que se encontra na literatura de todos os tempos. Eis um exemplo mais: em O Lobo, a Mãe e o filho, é um «cão de estrebaria» que estrangula o lobo.

Em A Lebre e a Perdiz, o cão Brifaux deixa escapar o primeiro daqueles dois animais (o nome de Brifaux, vem do verbo francês brifer que significava «devorar»). Mas Miraut e Rustaut encontrarão o seu rasto e conseguirão capturá-lo.

A CADELA E A SUA AMIGA

Na fábula A Cadela e a Sua Amiga, a primeira, que está quase a parir, consegue convencer uma cadela sua amiga a emprestar-lhe sua casota. Depois de parir, nega-se a devolvê-la, chegando mesmo a ameaçar a proprietária com as dentadas da sua prole quando esta crescer. E La Fontaine conclui:

De dar a má gente
nos arrependemos sempre.

E acrescenta:

Dá-se-lhes a mão
e tomam logo o pé.

La Fontaine (Clique aqui)


23/02/2009

DUELO DE TITÃS: FOME E INSTINTO




Muito obrigado à minha amiga Ana Cavaca, que me enviou este vídeo.

20/02/2009

GUINEFORT, O GALGO SANTO

Nas suas missões, São Roque e São Cristóvão contaram com a ajuda de cães fiéis, que são mencionados nos textos sagrados. Mas a Igreja nunca reconheceu nenhum cão santo.

UM GALGO CHAMADO GUINEFORT



Isto aconteceu há muito, muito tempo na região de Dombes, perto de Lyon. Um dia, conta-se, o senhor o castelo de Neuville e sua esposa tiveram de se ausentar por algumas horas, deixando o seu filhinho de poucos meses sozinho no castelo e à guarda do galgo do senhor.
E eis que uma serpente se introduz no quarto da criança. Ao ver que o réptil se aproximava do berço, o cão, que estava agachado atrás dele, atacou-a. Então deu-se uma luta violenta, com a serpente silvando e o cão ladrando; o menino, acordado pelo barulho, começou a chorar. No ardor da refrega, a criança caiu para baixo do berço, ficando no entanto em perfeito estado. O cão, coberto de feridas e de sangue, matou a serpente e depois continuou de guarda à criança.

O TRISTE FIM DE UM HERÓI

À última hora da tarde, a ama deu com esta cena e, sem procurar nem ir ver debaixo do berço, desatou a chorar desabaladamente pelo recém-nascido; quando a mãe chegou, fez o mesmo que a ama: pôs-se também a chorar. Nisto, o senhor entra no quarto e, cheio de cólera, mata o cão.
Só mais tarde, ao endireitar o berço, é que encontraram o menino, dormindo tranquilamente no meio da desordem. O senhor do castelo não teve de se esforçar nada para reconstruir o drama e reconhecer a coragem e lealdade do seu fiel cão. Guinefort, seu galgo, foi enterrado com todo o respeito que merecia a sua proeza.
Com o tempo, o castelo caiu em ruína e a Natureza recuperou os seus direitos sobre a propriedade, pois assim trabalha a justiça divina. Os camponeses dos arredores habituaram-se então a ir em peregrinação à campa de Guinefort, cujo acesso se mantinha em segredo. Guinefort fez milagres... e converteu-se em São Guinefort em toda a região.

O CULTO DE SÃO GUINEFORT

O culto de São Guinefort era bastante estranho, como testemunhou Étienne de Bourbon, o frade dominicano que descobriu essas práticas quando era inquisidor na região. Em 1260 fez uma pesquisa, que relata nos seguintes termos:
«Numa aldeia fortificada a uma légua de distância deste lugar, as mulheres, acompanhadas pelos filhos, vão procurar uma velha que lhes ensina a maneira de actuar, fazer oferendas aos demónios e invocá-los, e que as conduz a esse lugar. Quando chegam, oferecem sal e outras coisas; penduram nos ramos os cueiros das crianças e espetam um prego nas árvores que cresceram ali; passam a criança nua por entre os troncos de duas árvores; a mãe, que fica de lado, leva o filho e atira-o nove vezes à velha, que está do outro lado. Enquanto invocam os demónios, conjuram os faunos que há no bosque de Rimite para que, segundo dizem, apanhem a criança enferma e débil que lhes pertence; e, depois de a levarem, devolvê-la-ão gorda e luzidia, sã e salva.
«Feito isto, as mães infanticidas recuperam os seus filhos e põem-nos nus junto da árvore, em cima da palha do berço, e com fogo que levaram acendem de cada lado da cabeça duas velas que medem uma polegada, e fixam-nas sobre o tronco. Depois retiram-se até as velas acabarem de se consumir, de modo a não ouvirem os vagidos das crianças, nem as verem. As velas que se consomem desta maneira queimam por completo e matam várias crianças, segundo se conta. Quando as mães tornam para junto dos seus filhos, se os encontram vivos levam-nos até às águas rápidas de um rio próximo, chamado Chalaronne, onde os mergulham nove vezes; se se salvarem e não morrerem ali mesmo logo a seguir, é porque têm umas vísceras muito resistentes.»

Evidentemente, Étienne de Bourbon tentou proibir este estranho culto. Mas, tal como demonstra a apaixonante investigação realizada por Jean-Claude Schmitt e descrita no seu livro Le Saint Lévrier, o culto de Guinefort prolongou-se até muito depois do século XIII. Aparece mencionado em 1632, 1826, 1877, 1886, 1902 e mesmo em 1940, quando uma avó se lembrou de ir ao bosque de Saint-Guinefort para conseguir a cura dos seus netos.

PAVIA, CLUNY, SENS, BRUJAS...

Mais estranhas ainda são as outras onze versões da história de Guinefort (clique aqui) que Jean-Claude Schmitt descobriu na Europa Ocidental e que remontam à mesma época. Em Pavia, São Guinefort era humano e estava crivado de setas como São Sebastião; protegia os homens da peste; a sua festa celebra-se a 22 de Agosto. Em1082 foi feita à abadia de Cluny uma doação de uma «fazenda de San Guinifortius». Em 1131, na mesma abadia de Cluny faz-se menção a um altar dedicado a São Guinefort. Em algumas igrejas de Sens, Brujas e outras cidades francesas ainda se celebra o culto de São Guinefort. E até Montargis, famosa pelo seu cão, há no castelo uma capela subterrânea que lhe foi dedicada, não se sabendo se se trata do galgo santo de São Guinefort de Pavia.

Aspecto de um galgo, lévrier ou greyhound

18/02/2009

O CÃO DO DUQUE DE ENGHIEN


A fidelidade do cão ao dono pode ser exemplar. Mohiloff, o carlino do duque de Enghien, seguiu-o de Estrasburgo até Vincennes quando o detiveram, compartilhou a sua última refeição, assistiu à sua execução e chorou sobre a sua campa como um amigo inconsolável.

A história do cão do duque de Enghein (clique aqui) é particularmente comovente porque ilustra até que ponto pode ir a fidelidade de um cão, até mesmo nas circunstâncias mais trágicas.
Na noite de 15 para 16 de Março de 1804, detiveram Louis de Condé, duque de Enghien, foi preso por soldados franceses que cumpriram ordens de Bonaparte, então Primeiro Cônsul, em Ettenheim, na margem esquerda do Reno e não longe de Estrasburgo. O duque, que tinha trinta e um anos, era acusado de encabeçar uma conspiração realista.

UM CARLINO CHAMADO MOHILOFF

Quando o detiveram, o duque estava acompanhado do seu cão, Mohiloff. Tinha-o comprado em 1798 em Volhynie (Rússia) e, em companhia da princesa de Rohan, passeava com ele por toda a Europa.
Mohiloff, um carlino de cor de café com leite que tinha a engraçada fisionomia os cães da sua raça - uns grandes olhos, máscara preta e uma expressão travessa - seguiu a carreta em que levavam o dono até ao Reno. Ali chegados, os soldados enxotaram-no, e então atravessou o rio a nado, com o seu pequeno focinho fora de água, e chegou à margem pouco depois de o dono ter passado. Segui-lhe o rasto até Pfosheim, e depois correu atrás da carruagem de posta em que o duque seguia, e entrando na cidadela de Estrasburgo ao mesmo tempo que ela.

MOHILOFF UIVOU ATÉ À MORTE

Espantado, o duque viu Mohiloff saltar para a carruagem e enroscar-se a seus pés. Por fim, o cão foi autorizado a ficar com o dono.

Castelo de Vincennes, onde foi executado o duque de Enghien

O duque foi levado para Vincennes. Quando desceu da carruagem, com Mohiloff ao colo, foi entregue a Harel, comandante do castelo.
Ao jantar, o duque disse ao comandante:
-"Senhor, tenho um pedido a fazer-vos. Espero que não vos pareça uma indiscrição. Veio comigo um companheiro de viagem, o pequeno cão que vedes ali, que é o único amigo de que não me separaram. O pobre animal veio quase toda a viagem atrás de mim. E, tal como eu, mal comeu desde Estrasburgo. Permiti-me que lhe exprima o meu reconhecimento compartilhando com ele a minha refeição.
Tendo recebido autorização para o fazer, deu a Mohiloff metade da sua sopa e do seu prato de carne. O cão atirou-se à comida, depois apertou-se contra o peito do dono e assim permaneceu toda a noite.
Sumariamente condenado à morte em conselho de guerra, o duque foi levado à noite, debaixo de chuva, para ser executado nos fossos do castelo de Vincennes. Segundo Bernardine Melchiort-Bonnet (Le duc d´Enghien, Amiot-Dumont, 1954) Mohiloff não o abandonou nem por um momento. Desceu com ele para a vala, farejando as pedras húmidas da escada.
O pelotão de execução esperava. O duque gritou:
-"Eis que vou morrer às mãos de franceses!"
Mohiloff colou-se às suas pernas e tiveram de o arrancar dali. A salva fulminou o duque.
O cadáver foi enterrado numa fossa onde se atirava o lixo. Mohiloff, que tinha ficado ali, farejou o chão, deu voltas, uivou lugubremente e pôs-se a escavar o solo desesperadamente.
O cão tiritava, gemia e estava quase morto de inanição quando o marquês de Béthisy o recolheu no local da execução. O cão deixou-se levar sem dificuldade. A princesa de Rohan ainda manifestou o desejo de o ter de novo, mas a polícia proibiu que lho enviassem.

UMA FIDELIDADE EXEMPLAR

Quando Mohiloff morreu, o marquês de Béthisy mandou-o embalsamar. Depois do falecimento do marido, a marquesa de Béthisy entregou o corpo embalsamado do cão a Euxode Marcille.
O retrato de Mohiloff embalsamado foi publicado por Henri Welschinger no Le Monde illustré de 22 de Dezembro de 1888.
No entanto, os factos devem ter acontecido de maneira um tanto diferente. Segundo Henri Welschinger (Le Duc d´Enghien, Plon, 1913), o cão ficou com Harel durante a execução e foi depois da inumação que fugiu de casa do comandante e começou a uivar. Saltou para cima do túmulo, os gendarmes enxotaram-no dali, mas ele voltou ao mesmo sítio.
O pintor Carle Vernet pintou uma aguarela que representa Mohiloff a tentar levantar a pedra que cobre o corpo do dono, e dela fez Cassas uma litografia acompanhada de dois versos em latim do conde de Marcellus: «o descendente traído dos Condé procura um amigo no momento de morrer e o único que encontra é um cão».
A execução do duque de Enghien passou à posteridade como um crime napoleónico. É certo que em Sana Helena o imperador negou que tivesse ordenado a execução. Mas a verdade é que de facto o fez, embora não se saiba porquê.

A história de Mohiloff é um caso de fidelidade exemplar. E talvez de existência de um sexto sentido, pela maneira como segui o seu dono após a sua prisão.

Em Santa Helena, Napoleão contou que um dia, em Itália, a seguir a uma batalha,um cão saiu de debaixo de um cadáver e depois virou-se, uivando de dor, lambeu o rosto do cadáver e atacou várias vezes os franceses, como se quisesse vingar o dono.
Segundo o Memorial de Santa Helena, o imperador comentou assim a cena: «Não sentia nenhuma emoção quando ordenava batalhas que deviam decidir a sorte do exército; nem sequer pestanejava quando via executar movimentações que provocariam muitas perdas entre os nossos mas os uivos e a dor de um cão comoveram-me e abalaram-me.»
Henri Welschinger não deixou de comparar este relato com a conduta do cão do duque de Enghien, vítima do mesmo Napoleão.


17/02/2009

VICTOR HUGO E OS CÃES

Em 8 de Maio de 1882, foi fundada em Paris a primeira sociedade francesa contra a vivissecção e as torturas infligidas nos animais.O seu presidente era Victor Hugo. O bilhete postal editado por esta associação representa um cão que, depois deter sido feliz, se perde e é submetido à experiência.



Não tem nada de surpreendente esta iniciativa de Victor Hugo (clique aqui) cuja obra está impregnada de um amor profundo pelos animais em particular pelos cães.
Na sua peça
Marion Delorme (1831), dois personagens discutem sobre as feridas que os rivais podem causar um ao outro duelo. Um deles pronuncia estes versos, que certamente visam os biólogos:
Segundo vós, e como vedes, penso
que é falso o sangue passar pela jugular,
e deveria castigar-se Pecquet e os cientistas
que rasgam cães vivos para lhe observar os pulmões.

(Jean Pecquet era anatomista do século XVII).

Hugo teve vários cães: um deles,
Ponto, inspirava mais o escritor do que os outros, visto que deu o nome a um poema de Contemplations, escrito em Jersey em 1855. O poema começa assim:

Digo ao meu cão negro: Ponto, vamos.
E vou pelo bosque como um camponês.

Os relatos de atrocidades que pôde ler durante o passeio convenceram-no da inocência do cão. E acrescenta:

O cão é a virtude que podendo tornar-se homem se fez
animal,
e Ponto olha-me com os seus olhos leais.

O REGRESSO DE BARON


Há duas histórias protagonizadas por cães de Victor Hugo que são muito estranhas e ainda hoje não foi encontrada qualquer explicação para elas.
Um belo dia, ofereceram ao escritor um
caniche chamado Baron. O animal afeiçoou-se ao seu novo dono, cuja vida, então agitada, era compatível com a guarda de um animal. E Baron foi oferecido ao marquês de Faletans, aliado da embaixada em Moscovo.
Este decidiu levar
Baron para a capital de todas as Rússias. Vários meses depois, Victor Hugo recebeu uma carta do marquês informando-o do desaparecimento do cão.
Passaram-se várias semanas, até que uma noite, em Paris, a criada do romancista acordou com os latidos lastimosos que se ouviam à porta. Julgou reconhecê-los e abriu. Em casa entrou um cão enfraquecido e sujo, com as patas ensanguentadas. Era
Baron.
Acordado
pela criada, Victor Hugo levantou-se contrariado, mas o mau humor deu lugar à alegria quando se apercebeu que era Baron. O cão ainda viveu mais sete anos.

Será verídica esta história, ou fará parte da lenda de Victor Hugo? É sabido que há cães e gatos que percorrem grandes distâncias para voltar para o seu dono, embora não se explique como podem fazê-lo. Em todo o caso,
Baron teria percorrido cerca de 2150 quilómetros num mês, ou seja, 90 quilómetros por dia. Demasiado, talvez.

O PASSEIO FANTASMA


Victor Hugo em Jersey. Durante o exílio, o célebre escritor, cuja obra está impregnada de um profundo amor pelos animais, viveu aventuras mais do que surpreendentes, nas quais se misturam os cães

Quando
estava exilado em Jersey, Hugo tinha uma cadela cinzenta de raça pastor Chougna. Ora, num dos diários íntimos de Hugo existe uma nota muito estranha em que os protagonistas do facto relatado são designados apenas pelas suas iniciais. A nota é de 21 de Junho de 1856.
Um dia, uma jovem criada saiu de Marine-Terrace, a casa do escritor, para se banhar na praia de Azette na companhia de
Chougna. De acordo com as leis locais, a cadela levava açaimo (os cães vadios eram perseguidos na ilha por um personagem sinistro que os apanhava a laço). A rapariga e a cadela foram brincar com as ondas.
Pouco depois, Victor Hugo, vestindo um sobretudo pardo, calças, colete cor de ardósia e chapéu cinzento, foi passear na praia.
Chougna lançou-se a correr para ele com latidos lastimosos, como que para lhe pedir que tirasse o açaimo. Hugo fê-lo e pôs-lho em redor do ventre. Os dois continuaram o passeio.
Pouco depois, Hugo entregou
Chougna a Marie, a cozinheira, que estava no umbral da porta. Marie disse a Hugo: «Olhe, leva o açaimo no ventre». «Sim, respondeu ele, rindo, «porque lhe magoava o focinho. Tirou-o e, para não o perder, atou-o a meio do corpo». E foi-se embora.
Nessa noite, ao jantar, a criadita contou o que se tinha passado durante a manhã. Victor Hugo fê-la repetir duas vezes e Marie confirmou-o.
E o escritor termina assim o relato: «Depois de jantar, M.H subiu para o seu quarto profundamente pensativo. Não tinha saído todo o dia.»

A propósito deste episódio, um dos melhores biógrafos de Hugo, Henri Guillemin, observa que «é evidente que se trata de um caso real e desconcertante. Senão veja-se».
Trata-se do dom da ubiquidade? Teria ido Hugo a faculdade de se encontrar simultaneamente em dois sítios ao mesmo tempo? Ou seria simplesmente uma perda de memória? Tinha Hugo esquecido o que tinha feito de manhã?


Recorde-se que, quando estava em Jersey, o escritor passava as noites a falar à mesa com os seus partidários. Estas sessões eram esgotantes e tinham afectado gravemente o seu psiquismo.

E, além disso, de Victor Hugo tudo se podia esperar.

Está pois a pena de morte abolida nesse nobre Portugal, pequeno povo que tem uma grande história. (...) Felicito a vossa nação. Portugal dá o exemplo à Europa. Desfrutai de antemão essa imensa glória. A Europa imitará Portugal. Morte à morte! Guerra à guerra! Viva a vida! Ódio ao ódio. A liberdade é uma cidade imensa da qual todos somos concidadãos.
Victor Hugo, 1876, a propósito da abolição da pena de morte em Portugal (o primeiro país europeu a fazê-lo).

15/02/2009

GRIGIO


O padre João Bosco deixou uma recordação inesquecível: acrobata nos seus momentos livres, é o patrono dos ilusionistas e o fundador da Ordem dos Salesianos. Nascido em 1815 e falecido em 1888, João Bosco foi canonizado pela sua obra junto dos «rapazes maus» de Turim. Mas houve um cão, não menos extraordinário, que desempenhou um grande papel na vida deste notável padre italiano.

Uma noite de Outono de 1853 ia João Bosco (clique aqui) por um rua mal afamada de Turim quando de súbito lhe apareceu um cão que começou a segui-lo. O sacerdote olhou surpreendido para o animal, que nunca vira. Fez-lhe uma festa. O cão ficou quieto por momentos e depois afastou-se.
A partir de então, sempre que o sacerdote se encontrava sozinho à noite num local perigoso, aquele cão aparecia, vindo de nenhures acompanhava-o e depois desaparecia. O padre Bosco deu-lhe o nome de «Grigio» ou seja Cinzento.
E de facto o animal era dessa cor. De tamanho grande, tinha um focinho fino, orelhas rectas, pelagem abundante e cauda empenachada.

SEMPRE QUE ERA PRECISO, LÁ VINHA ELE

Era cinzento. Tinha uma pelagem abundante, orelhas rectas e uma cauda em penacho. Grigio talvez se parecesse com este cão, antepassado dos actuais cães esquimós.

Naquela época, as perseguições contra o padre Bosco vinham dos valdenses, uns heréticos cujo último bastião foi o Piemonte e que pregavam a pobreza e repudiavam o culto dos santos, o sacerdócio e a maioria dos sacramentos. Uma noite, um homem disparou contra o sacerdote. Como falhara lançou-se sobre a sua vítima. Mas Grigio estava ali: atirou-se ao agressor e obrigou-o a fugir.
De outra vez, João Bosco avistou dois indivíduos alguns passos adiante. Sentido o perigo, voltou para trás, mas foi agarrado e enfiaram-lhe um saco pela cabeça antes que conseguisse gritar.
Surgido como que por milagre, ladrando, Grigio atirou ao chão um dos homens, filando-o pela garganta enquanto o outro dava às-de-vila-diogo. João Bosco fez o cão compreender que devia soltar o assaltante, que também fugiu a correr.
Outra noite ainda, o sacerdote foi atacado por um malandrim armado com um cacete. João Bosco que não tinha maneira de lhe escapar, teve de lhe dar um forte murro. O malfeitor deu um grito e das sombras começaram a sair todos os seus cúmplices. O sacerdote sentia-se perdido. Mas Grigio apareceu uma vez mais e, dando voltas em torno dele, mostrava ameaçadoramente os colmilhos.
- "Por favor" gritou um dos homens, chame o seu cão. Não vê que me vai atacar?
- "E o que quer que eu faça?" disse João Bosco.
- "Perdoe-nos, senhor padre, somos uns pobres diabos; deram-nos cem mil liras..."
- "E ter-me-iam matado por essa quantia?"
- "Chame o seu cão!"
- "Primeiro prometam-me que me deixam em paz a partir de agora".
- "Juramos por Nossa Senhora".
- "Grigio, vem. Bravo, salvaste-me a vida."

Houve apenas uma vez que o cão rosnou a João Bosco. Uma noite, preparava-se o padre para sair, Grigio impediu-o de o fazer. Cortou-lhe a passagem durante meia hora, obrigando-o a ficar em casa.
Pouco depois chegou um vizinho para o avisar: ouvira uma conversa e ficara a saber que lhe preparavam uma espera. Como soubera Grigio?
Outra noite, o cão entrou em casa do padre Bosco, aproximou-se dele e pousou o focinho na mesa em que ele jantava e tornou a sair.
João Bosco compreendeu: um amigo traíra-o, mais cedo do que previa. Inquieto por não o ter visto regressar, Grigio quisera assegurar-se de que estava realmente em casa.
O cão nunca aceitava comida do padre Bosco, nem nenhum abrigo. Quanto às crianças, podiam acariciá-lo e fazer-lhe quantas travessuras se lembrassem; deixava-sa puxarem-lhe os pêlos ou as orelhas.
Quando as perseguições a João Bosco cessaram, Grigio deixou de aparecer.

QUE EXPLICAÇÃO?

A história de Grigio é absolutamente extraordinária. Parece bem comprovada; surge em todas as biografias do santo e até em bandas desenhadas inspiradas na sua vida.
Era um animal de carne e osso e não um cão fantasma. Hipótese mais razoável é que fosse algum cão errante que terá ganho afecto ao sacerdote. Mesmo assim, como poderia ter dado conta dos perigos que o ameaçavam?
Claro que João Bosco tentou saber de onde vinha o cão. Quando mais tarde lhe perguntaram o que pensava, respondeu:

"Se dissesse que era um anjo, riam-se. Mas também não posso dizer que era um cão vulgar"

Cada qual é livre de classificar este fenómeno como lhe agradar: paranormal, sobrenatural ou milagroso. Mas é incrível que a história de Grigio, que parece saída de uma lenda medieval, se tenha passado há cem anos.

"Basta que sejam jovens para que eu vos ame.", "Prometi a Deus que até meu último suspiro seria para os jovens.", "O que somos é presente de Deus; no que nos transformamos é o nosso presente a Ele", "Ganhai o coração dos jovens por meio do amor", "A música dos jovens se escuta com o coração, não com os ouvidos." João Bosco

13/02/2009

OS CÃES FANTASMAS

Não faltam as histórias de cães fantasmas. É para rir ou para ficar a tremer? Cada qual tire as suas próprias conclusões depois de conhecer uns quantos relatos.

Comecemos pela Grande Guerra, quando os obuses da Grande Berta caíam sobre Paris. Crapote era uma pequena cadela fox-terrier que o dono pôs num refúgio pensando que talvez tivesse de abandonar a cidade.
Uma dezena de dias depois, durante a noite, o homem acordou de repente e «viu» Crapote colocada numa espécie de outeiro olhando-o com tristeza e depois saltava para o vazio. Inquieto, o dono telefonou logo para o refúgio: considerando que a situação era difícil, o responsável tinha mandado matar todos os cães...

Outro testemunho, que data de 1910, é o de um habitante de Lausana, G. Graeser, que tinha confiado à mãe a guarda de Bobby, o seu São-bernardo. Um dia, pelas 19.30, Graeser estava na sua casa quando de repente viu a porta abrir-se e apareceu Bobby, um
Bobby triste e vacilante que se aproximou «dele, roçou-lhe as pernas e deitou-se». O seu antigo dono quis acariciá-lo... mas apenas encontrou o vazio.
Assustado, telefonou para o Clos d´Équarrissage, muito perto dali: «Viram uma senhora vestida de preto com um São-bernardo?» A resposta caiu como uma pancada: «Mataram um São-bernardo há apenas dois minutos; a senhora ainda está aqui». Esta aventura era contada pelo célebre astrónomo Camille Flammarion (clique aqui), grande entusiasta do paranormal.

Em «Alien Animals» são contadas muitas histórias misteriosas como a do cão preto que percorre o pequeno caminho perto de Uplyme no condado de Devon.

VOLTA PARA DEFENDER A DONA...

Nestor, o epagneul de Dorothy Morgan, morrera recentemente. A mulher, de nacionalidade inglesa e que tinha dificuldades financeiras, deixou a casa e alugou um andar.
E uma noite, apareceu Nestor... e saltou para a cama como era seu costume. Na noite seguinte voltou mas desta vez não vinha sozinho: com ele um caniche cinzento prateado, e os dois cães (fantasmas) começaram a correr pelo andar.
Dorothy contou estas estranhas aparições aos proprietários do andar que depois da descrição do caniche disseram que «é o nosso Pimlico, morto há muito tempo; está enterrado no jardim».
Deve ter-se em conta que Dorothy nunca tinha ouvido falar desse caniche...

Histórias como estas abundam nos livros de parapsicologia. Encontramo-las, por exemplo, no estudo de E. Bozzano, O caso dos animais que regressam, em As aparições misteriosas ou no último livro de Jean Prieur (clique aqui), A alma dos animais (1986).

A leitura deste livro de Ernesto Bozzano é fundamental para se responder a uma das perguntas mais intrigantes da vida: os animais têm alma? Estrutu­rando a sua pesquisa em duas grandes diretrizes a actividade paranormal dos animais e casos de aparição post-mortem de fantasmas de animais, Bozzano comprova a existência e a sobrevivência da alma dos animais com uma argumentação rigorosamente científica. Uma obra insuperável.

Eis outra aventura que aconteceu a uma médium célebre, Elizabeth d´Espérance (clique aqui). Uma manhã, na sua casa de jantar, viu uma pequena cadela terrier, Morna, que tinha tido há já algum tempo. Pôs-se a correr pelo aposento e escondeu-se por debaixo da mesa. D´Espérance pensou que o novo dono da cadela (que vivia a 160km de distância) lha tinha devolvido. Mas, quando voltou ao aposento, Morna tinha desaparecido.
Pensou que estava ser vítima de uma alucinação. No entanto, quando um ano depois se encontrou com o dono da terrier, soube que Morna tinha morrido devido às feridas que sofrera na luta com um cão enorme. E a morte tinha acontecido no mesmo dia da sua surpreendente aparição...

Como se pode ver, na maioria destes testemunhos, os fantasmas dos cães aparecem depois da sua morte ou no preciso momento em que acontece o falecimento.
Outro exemplo. Na Califórnia, uma noite, uma senhora atravessava um parque deserto e escuro. Imediatamente foi atacada por dois homens. Tentou fugir e então apareceu Nigel, seu cão de guarda, um temível colley. Afastou os agressores e acompanhou a dona até uma zona iluminada. E ali mesmo, desapareceu. O mais extraordinário é que Nigel tinha morrido no ano anterior...
Em 1911, um fantasma feminino aparecia regularmente ao reverendo C.L.Tweedale em Inglaterra. Um dia estava acompanhado por um cão, depois apareceu apenas o animal várias vezes. Até era perseguido por uma menina de dois anos que lhe gritava: «bu, bu». O reverendo reconheceu pela pelagem branca manchada de preto o seu terrier morto há doze anos.
Em Créteil, na periferia de Paris, diz-se que os fantasmas dos cães apareciam para atormentar os vivisectores que os tinham torturado em vida...
Os exemplos podiam ser multiplicados. Acredita-se nuns, não se acredita noutros... Evidentemente, faltam provas objectivas. Segundo os parapsicólogos, os cães fantasmas classificam-se de diversas maneiras: corpo astral, corpo subtil, corpo etéreo, corpo-energia - existem muitos nomes - e seriam compostos de plasma, o quarto estado da matéria.
Alguns crêem que as aparições são a prova da sobrevivência da alma animal e, portanto, da sua existência. É muito raro o «fantasma» que aparece ser o de um cão que ainda está vivo.

UMA MATILHA INQUIETANTE

Também se contam casos ligeiramente diferentes dos anteriores. Depois da morte do seu cão Rolf, Isabelle de S. quis ter um gato. Mas Rolf detestava gatos.
Isabelle levou para casa uma gatinha chamada Tortoise. Esta adaptou-se muito bem à sua nova casa mas evitou cuidadosamente o cesto que tinha sido ocupado pelo cão.
E um belo dia, a gata ficou aterrorizada em frente do cesto e começou a arquear o lombo. Isabelle compreendeu que Tortoise «via» Rolf. Então, começou a caça. A gata, assustada, fugindo do seu inimigo (invisível aos olhos humanos), saltava por cima dos cortinados, escondia-se nos armários e metia-se onde podia. Até que um dia fugiu e voltou para os seus antigos donos. E Isabelle renunciou a tê-la de novo.
Outro tipo de história. Em finais do século passado, nos Estados Unidos, um homem regressava a casa quando viu sentado perto da rua um cão enorme que media mais de 1.50m de altura. E nessa ocasião, uma matilha de várias dezenas de cães fantasmas, pequenos todos eles, lançaram-se em cima dele ladrando furiosamente.
Disparou, mas as balas atravessaram-nos sem os ferir. Depois, desapareceram todos...para reaparecerem de novo todas as noites sempre com a mesma agressividade.
Às vezes, ouvem-se latidos (sem que haja forçosamente uma aparição). Uma mulher que regressava a Versalhes (e que, sem dúvida, estava impressionada com a história dos fantasmas de Trianon) ficou surpreendida no seu carro por uns latidos; mas não havia nenhum cão.
Outra história extraordinária: em 1916, um inspector da Scotland Yard reformado, Arthur Springer, fotografou várias pessoas que estavam a tomar chá em Tigenswick, em Inglaterra; mas quando revelou a fotografia o que viu foi... um cão fantasma cujo corpo era perfeitamente visível embora a cabeça estivesse desfocada; dessa vez, ninguém o reconheceu. Há «aparicões» que são reveladas nas fotografias e que ninguém viu.
E, sempre em Inglaterra, como é lógico, há numerosas lendas de cães fantasmas que erram através dos campos (o cão dos Baskerville). Esses cães diabólicos de olhos de fogo desvanecem-se num instante deixando um cheiro a enxofre.

Mais pacíficas, mas não menos impressionantes, as histórias de cães fantasmas são um bom testemunho da força que une o cão ao seu dono.

12/02/2009

O CÃO DE BASKERVILLE



«Eram pegadas de um cão gigantesco». Uma relação capaz de fazer Sherlock Holmes perder a sua lendária fleuma. Mas era preciso muito para perturbar o faro - também lendário - do célebre detective.

« Foi o doutor Mortimer, um simpático médico rural, quem contou a Sherlock Holmes e ao seu fiel Watson os dramáticos acontecimentos que haviam tido lugar em Dartmoor, uma região de charnecas selvagens no sudoeste de Inglaterra.»
Assim começa O cão de Baskerville, uma das obras-primas de Arthur Conan Doyle e da literatura policial.
A casa de campo dos Baskerville ergueu-se no meio da desolação de Dartmoor. O seu último ocupante, Sir Charles Baskerville, acaba de ser encontrado morto no seu parque, com uma atroz expressão de terror no rosto. E, perto do seu cadáver, as famosas pegadas...
Começa a investigação. Certamente um estranho caso, rodeado de uma atmosfera fantástica. Havia várias investigações que a família Baskerville era perseguida por uma maldição representada por uma cão fantasma e fosforescente que algumas testemunhas afirmavam ter visto a errar pela charneca.
É então que regressa a Inglaterra o último representante da família, o jovem Henry Baskerville, sobrinho de Sir Charles.

TERROR NA CHARNECA

Os fios do espantoso mistério, à primeira vista inextricáveis, vão-se desenredando a pouco e pouco. Desde o início do caso que Holmes está convencido de que o cão é real. O que o põe na pista é, além das pegadas, o desaparecimento dos sapatos de Sir Henry, o que só se explica pelo cheiro.
Também há os uivos, uns uivos aterradores, sinistros, que se ouvem por sobre o lamaçal de Grimpen, um inquietante pântano de onde vem, flutuando, a bruma que se espalha a escassa distância da casa de campo dos Baskerville...Como a região tem poucos habitantes, não há muitos suspeitos. Mas Sherlock Holmes concentra toda a sua atenção numa curiosa personagem, Stapleton, um entomologista que vive com a irmã numa pequena casa no meio da charneca. O estranho Stapleton acaba por convidar Sir Henry Baskerville para jantar, o qual se enamora da menina Stapleton. Holmes compreende que o último Baskerville está prestes a cair numa cilada.
Sir Henry tem de fazer um longo percurso a pé pela escuridão da noite para chegar ao castelo. Claro que vai ser esse o momento em que o animal aparecerá. Escondidos atrás de uns penhascos, Holmes e Watson vêem Sir Henry Baskerville emergir da névoa e logo a seguir ouvem um ruído, um pequeno ruído de passos precipitados. E de repente...
...Um cão gigantesco sai da bruma, um cão negro cujos olhos, focinho e patas lançam chamas. Em largas passadas, aproxima-se de Sir Henry, que se vira e fica apavorado perante o mesmo espectáculo que fez morrer de medo o seu tio. O molosso arroja-se sobre ele e atira-o ao chão, mas cai, fulminado pelos disparos de Holmes.
O detective descobrira que Stapleton era na realidade um Baskerville, descendente de outro ramo da família. Nascido na África do Sul, voltara a Inglaterra com a mulher (fazendo-a passar por sua irmã), absolutamente decidido a apoderar-se dos bens de Sir Charles.
Quando soube da lenda do cão fantasma, decidiu utilizá-la. Assim, comprou um molosso do tipo do dogo alemão, que escondeu numa mina abandonada, quase inacessível, no meio do pântano. Mas não podia impedi-lo de uivar...Às vezes soltava-o pela charneca, depois de o lambuzar com fósforo. O resto já é conhecido. Na sua fuga, Stapleton afogou-se no pântano.

O CÃO NÃO TINHA CULPA

Depois de Conan Doyle, muitos outros novelistas imaginaram cães aterrorizadores. Assim, recentemente, o célebre escritor norte-americano Stephen King publicou Cujo, que conta a história de um são-bernardo raivoso que imobiliza os automobilistas nos seus carros. Este romance foi levado ao cinema.
Mas nem todos são Conan Doyle. Tenhamos em conta sobretudo que o molosso da charneca de Dartmoor, por mais espantoso que fosse, não tinha culpa. Neste caso, não passava da arma do seu dono. Não é o homem o único animal cruel?

Filmes inesquecíveis: The Hound of Baskerville (note-se o termo hound, que se aplica aos cães ferozes, por oposição a dog) foi publicado em folhetim no Strand Magazine, em 1901, aparecendo em livro no ano seguinte. A novela alcançou uma imensa popularidade e foi traduzida para um grande número de línguas. Fizeram-se cinco adaptações cinematográficas desta obra de Conan Doyle. Na mais célebre, Sherlock Holmes é interpretado por Basil Rathbone. Noutro filme contracenam Peter Cushing e Christopher Lee, especialista em filmes de terror.

10/02/2009

AS FALSAS INTERPRETAÇÕES DO COMPORTAMENTO DO CÃO

Existe uma série de lendas e de preconceitos acerca do cão que ainda hoje são considerados verdades inquestionáveis.

É interessante observar que estas falsas interpretações, que se devem a milhares de anos de vida em comum entre o homem e o cão, fazem alternar um antropomorfismo, flagrante nos cinófilos (e particularmente marcado nos anglo-saxões), com um sentimento de repulsa herdado das tradições mediterrânicas. Assim, o mais fiel amigo do homem situar-se-ia entre o «cão que entende tudo e só lhe falta falar» e «o cão que não compreende nada e é só puro instinto».
Por mais caricatas que sejam, estas duas posições extremas resumem bem os diferentes pontos de vista que se manifestam na literatura cinófila e na linguagem popular. Falaremos aqui de alguns desses erros e procuraremos esclarecer as coisas.

«Quando saio, o cão destrói tudo o que apanha e faz as suas necessidades por toda a casa»

Além de isto não corresponder à realidade, pois o cão com um comportamento assim apresenta uma clara síndrome de separação, este conceito de comportamento provoca a deterioração da relação dono-cão. O cão deve estar a defrontar-se com um estado de medo, e castigá-lo só servirá para piorar as coisas.

«O meu cão é uma fera porque come demasiada carne vermelha»

Não é por o cão gostar muito de carne vermelha que se deve dar lhe mais do que aquilo que o seu organismo pode suportar, sob pena de lhe causar problemas digestivos ou excesso de peso, mas em caso algum correrá perigo de se tornar pior por isso.

Independentemente da dificuldade em definir a maldade, esta opinião baseia-se num preconceito sem fundamento relacionado com a absorção de sangue cru. A agressividade, que é uma tendência reactiva que se manifesta nos comportamentos de agressão, é um elemento normal do psiquismo destinado a permitir a sobrevivência do cão. Ora, o cão é carnívoro e é absolutamente normal que se alimente de carne, vermelha ou não, cozinhada ou crua; isso não tem qualquer incidência nas suas reacções comportamentais.

«Um cão que provou sangue humano torna-se perigoso»

Esta crença está relacionada com a precedente, e nela se encontram vestígios de antigos medos, indubitavelmente associados à imagem do lobo e dos animais «que comem as pessoas». Semelhante teoria pressupõe que se confundem todos os comportamentos de agressão e que estes são associados, em maior ou menor medida, com a predação. É extremamente raro que o cão morda um ser humano para se alimentar, e os exemplares que perseguem o homem como se fosse uma presa, se é que existem, são uma excepção. Geralmente, a mordedura está relacionada com a hierarquia, o medo, a irritação ou a agressão territorial (reforçada pela educação), e o contacto com o sangue do adversário não é de modo algum a causa de uma eventual recaída ou de uma acção mortal sistemática.

«A mão que acaricia não deve bater»

Há muitos treinadores, e também livros, que utilizam este axioma para justificar a utilização do jornal, dos chinelos ou até de um pau para corrigir os cães.

Quando o cão merece uma reprimenda, talvez o dono recorra a um jornal para lhe bater, de acordo com certos preconceitos. Mas o mais indicado é utilizar a mão. O cão não irá confundir com uma carícia a palmada que acompanha o ralho.


Esta precaução não tem qualquer sentido, por duas razões. Em primeiro lugar, a correcção não tem por objectivo provocar uma dor física, mas sim manifestar a desaprovação do meio para com o culpado. Por conseguinte, deve ser precedida e acompanhada de uma intimidação verbal e corporal por parte do dono. Além disso, como é o prolongamento da intimidação, a sanção física pode ser perfeitamente infligida com a mão sem que haja confusão possível com uma carícia, visto que a relação entre dono e o seu cão não é a mesma num caso e noutro. A mão é então o equivalente da boca do cão.

«Se o cão faz as suas necessidades em casa, tem de se lhes esfregar o nariz nelas»

Esta prática, que continua vigente apesar da sua demonstrada ineficácia, baseia se na ideia de que é repugnante meter o nariz nos excrementos. Ora, essa afirmação, que se aplica no caso do homem, não se aplica ao cão. A reacção deste último a esse tipo de castigo deve-se mais à brutalidade do gesto do que à repulsa. A verdade é que, na rua, o cão fareja a urina ou os excrementos dos seus congéneres.

«Os cães não gostam de uniformes, de pessoas de outras raças, de chapéus...»

Este é o tipo de opinião falsa que corresponde à transposição de uma reacção incómoda para o cão, que o dono procura justificar com estas palavras: «Vê como é normal esta reacção? Nem o meu cão gosta deles.» De facto, o que é que faz o proprietário quando se cruza na rua com alguém que tem uma dessas características? Antecipando a reacção do seu cão, puxa a trela para reduzir o raio de acção do animal.

Quando nas proximidades surge o carteiro, o polícia ou o guarda, muitos donos, desejosos de evitar problemas e de ficarem com a consciência tranquila, reduzem ao máximo possível o raio de acção do seu cão, porque, como sabe, «os cães não gostam de uniformes»...

Ao mesmo tempo, realiza pequenas tracções bruscas sobre a coleira, segundo ele para cortar o impulso do cão, que se lançaria contra a pessoa. Geralmente, também se observa uma alteração do ritmo da marcha e a crispação dos movimentos. O cão aprende assim que, na presença de certa pessoas, o seu condutor reage com inquietação e então «trata-as mal».



09/02/2009

O CÃO E OS BOATOS

Os doberman têm uma fama que não os favorece nada. A crueldade que os caracterizaria tem dado lugar a muitas histórias que, no fundo, têm uma grande dose de lenda. Mas não se diz que não há fumo sem fogo?

Os boatos, sejam antigos ou modernos, circulem pela cidade ou pelo campo, apaixonam os sociólogos pelo seu fundo de verdade, como todas as lendas.

Quando Sally Rogers acabou de fazer as compras, voltou para o seu apartamento de Nova Iorque. Esperava que o seu doberman viesse fazer-lhe festas. Mas encontrou o cão com convulsões e ofegante, a ponto de sufocar. Assustada, correu ao veterinário.
Este decidiu praticar uma traqueotomia e ficou com o cão. Mas mal Rogers chegou ao seu apartamento, o telefone tocou. Era o veterinário: "saia já do apartamento," - disse-lhe. Está certamente um ladrão aí dentro.
E tinha razão, porque encontrara três dedos humanos na garganta do doberman.
Refugiada no apartamento de uns vizinhos, Sally chamou a polícia. Ao revistarem o apartamento, encontraram nas traseiras um jovem ladrão com uma mão ensanguentada, à qual faltavam três dedos.
Esta história do «doberman que sufoca», foi relatada em The Chocking Dobermann. Ao que parece, foi publicado pela primeira vez em Junho de 1981, no New Times, um jornal de Phoenix, Arizona. Depois chegou à Grã-Bretanha, onde o cão se converteu em pastor alemão, em boxer e até em terrier escocês. Propagou-se de boca em boca, como todos os boatos, sem que se pudesse determinar o que nele havia de verdadeiro.

A ideia, instalada no subconsciente, segundo a qual o doberman é um cão naturalmente violento e agressivo, foi objecto de um livro, The Choking Doberman, que teve um certo impacto nos Estados Unidos.

O folclorista norte-americano Jan Harold Brunvand, professor da universidade de Utah, estudou a fundo esta questão num livro intitulado The Choking Dobermann. E, segundo outro jornal note-americano, Globe, o nome do doberman era Tiger.

O ERRO TRÁGICO

Numa história muito parecida com esta, o cão chama-se Wagger e desta vez a mulher vive em casa do filho. No bairro deram vários roubos. De modo que numa noite, antes de se despedir, ele adverte-a: « Se algum intruso tentar entrar, só tens que dizer ao cão: "Wagger, agarra!"
Pouco depois, o cão agita-se, com o dorso eriçado. Então, ouve-se um ruído suspeito; alguém procura forçar a janela; aparecem uns dedos e depois salta lá para dentro um homem de cara tisnada.
"Wagger, agarra!" - grita a mãe. O cão ataca. E ela julga ouvir a voz do homem agonizante: Wagger, Wagger...
Horrorizada, a mãe apercebe-se , então, de que o «ladrão» era o seu próprio filho, morto pelo cão cuja eficácia queria comprovar.
Esta história parece-se com o tema do erro trágico que aparece periodicamente desde o século XVIII e que inspirou a Albert Camus a sua peça O Equivoco. J. H. Brunvand refere que há outros relatos, embora bastante diferentes, que se situam na mesma linha. Assim, o do automobilista atacado de noite por um bando de cães vadios e que consegue escapar. No dia seguinte, descobre quatro dedos humanos no ventilador do sistema de refrigeração do carro.

Outra história: uma mulher vai a correr para o andar de baixo para chamar a polícia. A vizinha recusa-se a abrir-lhe a porta, porque o seu marido acaba de entrar, gravemente ferido na mão.
O seguinte relato é mais risinho. Em Nova Iorque, três mulheres estão num elevador, quando chega um negro com um cão.
"Sente-se", - ordena. As três mulheres sentam-se. E então o homem explica-lhes: "Estava a falar para o meu cão.
Depois, elas perguntaram-lhe se conhecia algum bom restaurante; ele deu-lhes uma direcção e elas foram para lá. Na altura de pagar, o empregado informou-as de que a conta já tinha sido paga por Reggie Jackson, o célebre campeão de basebol... o homem do elevador.
Refira-se que o cão era um doberman. Interrogado sobre esta história, R. Jackson desmentiu-a; segundo ele, seria cruel ter um cão em Nova Iorque.

DESDE A IDADE MÉDIA ATÉ AOS NOSSOS DIAS

Há várias lendas medievais que falam de um senhor que deixa o seu filho sozinho em casa, guardado pelo cão. Quando regressa, ao ver sangue em volta do berço julga que o cão matou a criança e manda matá-lo... Depois apercebe-se do seu erro. O corpo de uma grande serpente jaz próximo do berço; o réptil pretendia atacar o bebé e o cão matara-o.

No País de Gales ainda se pode ver o túmulo do lebréu Gelert, morto em circunstâncias semelhantes pelo seu dono, o príncipe Llewelyn. Uma história comparável a esta do lebrel Guinefort, em França; este cão chegou a ser «canonizado» e venerado durante séculos, na região de La Dombes, porque tinha fama de curar as cianças.

J. H. Brunvand considera que se pode fazer uma genealogia dessas diferentes histórias. As lendas que acabamos de citar são o ponto de partida, juntamente com histórias de intrusos que acabam com feridas nas mãos. Esta é a fase mágica e sobrenatural. Depois vem a fase racionalista, com o ladrão ferido e os dedos cortados. Seguidamente, chega-se à época actual, com o doberman que sufoca e a variante de Wagger. Então intervêm elementos modernos: a insegurança da cidade, o telefone, a polícia, o veterinário. Mas os mitos continuam a ser os mesmos.
Vale a pena estabelecer a genealogia dos nomes: São Guinefort converteu-se em São Guy-le-Fort, que deu Gelert, porventura a origem de Tiger e de Wagger. Mais precisamente, to wag sigifica agitar, como o antigo verbo guigner, do qual teria derivado Guinefort.
Continua a haver um problema: poderá um cão grande cortar dedos com uma dentada?

A HISTÓRIA DO CÃO RATAZANA

Há muitos outros boatos contemporrâneos em que aparecem cães. Assim, o da ratazana gigante e do gato, que açambarcou a crónica de sucessos dos últimos anos, tanto na Europa como nos Estados Unidos.Também é conhecido como o do cão ratazana ou do cãozinho mexicano (mexican pet).
Segundo se conta, numa viagem à América do Sul, uma senhora reparou numa espécie de cão hirsuto que a seguia. Adoptou-o e levou-o para casa. Ora, a senhora tinha uma gato persa, que deixou só com o recém-chegado. Quando voltou, o cão tinha matado e devorado o gato. Transtornada levou o culpado ao veterinário, que exclamou: "o que a senhora aí traz não é um cão, é uma ratazana enorme.
E fez-lhe a eutanásia. É certo que na América do Sul existem grandes roedores mas seriam incapazes de matar um gato.

Actualmente, circulam mais boatos. Assim, uma senhora mete o cão no micro-ondas para o secar e ele morre. Outra história trágica: um par de turistas suiços visita Hong Kong com seu cãozinho. No restaurante, pedem ao criado que dê de comer ao cão. Para se fazer entender, mostram o cão e apontam para a boca. O criado que interpreta erradamente esse gesto, volta pouco depois com o cão num estado fácil de imaginar.

Finalmente, uma história que tem lugar em plena Natureza dos Estados Unidos. Um campista encontra um coiote ferido. Como detesta esta espécie ata ao animal um cartucho de dinamite para o fazer saltar pelos ares, e depois vai para a sua tenda. Mas vê, pasmado que o coiote se aproxima dele. A explosão destrói a tenda.

03/02/2009

MACACOS













Recebi estas lindas imagens num email da minha amiga Bruna, à qual lhe estou muito agradecida.


Enquanto não puser ordem na minha cabeça nos próximos dias pelos numerosos "macacos" iguais aos da imagem que por lá se encontram, desfrutem desta beleza, onde em todo o reino animal se pode enquadrar perfeitamente a socialização, impregnação, "imprinting", hierarquização, etc.

Aprendemos sempre
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