27/01/2009

AS PERTURBAÇÕES DEVIDAS À ANSIEDADE DO CACHORRO - PARTE II

Além da ansiedade da separação, há outras três patologias que podem afectar o cachorro: a ansiedade de privação, enurese (micção involuntária) do cachorro em treino e a estereotipia. Estas quatro patologias têm em comum o papel fundamental que os donos nelas desempenham, sobretudo no bom desenrolar do tratamento.

Das quatro patologias de ansiedade do cachorro, a mais comum é a da separação.

A ANSIEDADE DE PRIVAÇÃO: O CACHORRO ASSUSTADO QUE JÁ NÃO QUER SAIR

Na escala de frequência, a ansiedade de privação, que está a aparecer cada vez mais, vem logo seguir à ansiedade da separação. Afecta os cachorros criados num meio menos rico em estímulos, como aquele em que vão viver com os donos. Incapazes de encontrarem um comportamento adaptado, os cachorros têm reacções emocionais de intensidade crescente, que vão desembocar na ansiedade. O seu comportamento motiva uma grave perturbação nas relações com os donos. De facto, muitas vezes estes não suportam a sua manifestação mais frequente - negativa do cachorro a ir a passeio.

O tratamento consiste na administração de psicotropos, complementados com uma habituação. Quanto mais precoce for a sua aplicação, tanto mais eficaz ela será. Os medicamentos utilizados têm por objectivo intensificar o comportamento exploratório, suprimindo ao mesmo tempo as reacções de medo. São precisos três meses para o cachorro recuperar um comportamento satisfatório.

A ENURESE: O CACHORRO URINA À MENOR REPRIMENDA

As crianças costumam sentir um grande afecto pelos cachorros. Mas o jovem dono deve saber dosear a ternura e a educação se quiser que o seu cão seja «normal».

As outras duas patologias de ansiedade que se encontram no cachorro estão relacionadas com a educação e o treino. Como é muito frágil no plano afectivo, qualquer aprendizagem requerirá ao cachorro uma relação tranquilizante baseada na paciência. Às vezes, os donos não a têm e querem resultados imediatos. Assim, põem em prática um programa de treino energético que prevê castigos e recorre à inibição como técnica para moldar o seu comportamento. O cachorro começa por se assustar e depois mergulha num estado de prostração permanente perante as sanções. As primeiras perturbações comportamentais aparecem com muita rapidez e correspondem a dois tipos de patologias possíveis.

Na primeira observa-se a perda de controlo esfincteriano, com enurese, em particular durante o sono. O cachorro acorda molhado. Ao princípio urina à menor reprimenda e em seguida a cada contacto com o dono. O repertório de posturas reduz-se; o cão mantém quase permanentemente as orelhas caídas e a cauda entre as pernas, por baixo de um ventre agalgado. Em geral, o dono não suporta estas manifestações, mas se punir as porcarias só conseguirá agravar a situação e aumentar rapidamente a frequência da enurese, que pode vir a ser acompanhada de encopresia (incontinência nocturna de matérias fecais).

Chama-se a esta patologia «enurese do cachorro em treino». Trata-se bem, desde que o dono aceite participar; o tratamento deve começar quando as perturbações aparecem. Limita-se a interromper os exercícios de trabalho e instaurar em seu lugar jogos e uma relação afectiva cordial. Depois reintroduz-se o trabalho entre os jogos e todo o treino será feito através de actividades lúdicas. Mas quando as perturbações estão já muito instaladas, deve-se associar à terapia medicamentos destinados a desinibirem o cachorro e a restabelecerem o controlo esfincteriano.

A ansiedade pode chegar a tais extremos que o cão não suporta andar na rua, nem sequer levado à trela. Todas as formas de patologia devida a ansiedade são difíceis de tratar, pelo que mais vale preveni-las com uma educação judiciosa.

A ESTEREOTIPIA DE IMPOSIÇÃO: AS FASES DE EXCITAÇÃO REPETIDAS

Na segunda forma, as situações de imposição criadas pelo treino levam ao aparecimento de curtas fases de excitação, durante as quais o cachorro repete constantemente a mesma acção: são as chamadas fases de estereotipia. Ao princípio, estas estereotipias permitem ao cachorro aliviar a tensão emocional. Mas ao fim de alguns dias a estereotipia instala-se de forma sistemática e altera consideravelmente as relações do cachorro com o seu meio. A acção de «se pôr às voltas para apanhar a própria cauda» é uma das mais frequentes. Na maior parte dos casos, o dono reprime essas fases de excitação, o que tem como consequência aumentar a sua frequência e degradar ainda mais as relações entre ele e o cachorro.

Como no caso da enurese, as «estereotipias de imposição» implicam a interrupção do treino e a sua substituição pelo jogo. O tratamento com neurolépticos desinibidores é eficaz.
Assim, estas duas últimas patologias devem ser alvo de uma prevenção inteligente, que consiste não em evitar o treino dos cachorros pequenos, mas sim em fazê-lo através do jogo. Se assim se fizer, o treino transforma-se em educação e o cachorro aprende e compreende o exercício.

16 comentários:

Anónimo disse...

Olá Paula,
Essa de andar às voltas a tentar apanhar a cauda já vi muitas vezes, mas pensei que era para brincar...muito nos ensinas tu!!!
Bjinho grande

Maria Paula Ribeiro disse...

Ana Cavaca,

:-) Nada acontece por acaso. E e assim não o pesarmos, caímos inconscientemente num mundo de ignorância.

Acontece-me muitas vezes, mas ficam cá os "macacos" a fervilharem, ao tentar encontrar a solução, lol lol

Nem sempre a encontra, ou por vezes demasiado intemporal. :-(

Beijinho grande

Ana Cristina disse...

temos mesmo que voltar aquela fase esquecida de aprender com os animais...

Maria Paula Ribeiro disse...

Ana Cristina,

:-) Somos evoluídos, sem dúvidas. Mas não esqueçamos, os alicerces de base mais primordiais.

Eles estão aí (animais) mesmo para não nos esquecermos das coisas básicas e assentes na lei do amor. :-)
Bj

Anónimo disse...

Olá Paula

Muito interessante!

Lembrei-me de te perguntar uma coisa: Isto da andar atrás da cauda para a apanhar também se aplica aos gatos? Eu vi algumas vezes o meu gato andar às voltas atrás da cauda mas ignorava que era ansiedade. Achava-lhe graça pois pensava que era ele a brincar.

Mais uma lição amiga a aprender. Sinais simples que não devemos ignorar.

Beijos

Adelaide Figueiredo

Maria Paula Ribeiro disse...

Adelaide,

Pode ser mas o mais provável é que não o seja.
Esse comportamento é de brincadeira, mas se associado a um "mau estar" do gato,um comportamento de algum afastamento entre gato-dono ou mesmo um certo nível de agressão/indiferença,poderás suspeitar de um estado ansioso.

:) Beijinho grande

Isa Grou disse...

Olá Maria Paula,

Lendo este artigo fiquei pensando...acho que o Piti (meu cachorro), tem esses distúrbios, será???
Eu te peço para ler o artigo que escrevi sobre ele no meu blog, e me diga se estou certa, pode ser? Por favor...
Ele só confia em mim..........se eu não estou em casa, ele fica triste dentro da casinha dele, se não sou eu a dar a ração p/ ele, ele não come....nem água bebe quando não estou...e quando se assusta (ele sente medo de pessoas, gente) corre deixando rastros de urina..........o que será que devo fazer para ele se acostumar com pessoas??

Desde já obrigada.
Bjs.

Maria Paula Ribeiro disse...

Isa,

Durante o dia de hoje irei responder. :-)
Agora, está na hora de dormir. :-)

Aguarde. Beijinhos

Maria Paula Ribeiro disse...

Bom dia Isa,

Será que me podes dizer o nome do artigo/dia do teu Piti?
:-) para te dar uma resposta mais consistente.
Jinhos

Isa Grou disse...

Olá Maria Paula,

Sim claro....o artigo é: - Apresento-lhes o meu "segurança" particular, "fisioterapeuta" exclusivo e "terapeuta" nota 10 - Mas na barra lateral a direita, onde tem os arquivos, se você ir "descendo" também tem um link (um ser-zinho muito especial) "Piti", clicando lá já vai p/ o artigo....mais acho fácil.

Grata.
Bjs.

Isa Grou disse...

Olá Maria Paula,

Sim claro....o artigo é: - Apresento-lhes o meu "segurança" particular, "fisioterapeuta" exclusivo e "terapeuta" nota 10 - Mas na barra lateral a direita, onde tem os arquivos, se você ir "descendo" também tem um link (um ser-zinho muito especial) "Piti", clicando lá já vai p/ o artigo....mais acho fácil.

Grata.
Bjs.

Maria Paula Ribeiro disse...

Olá Isa,

Em primeiro lugar, encara este meu texto como aconselhamento e nunca como consulta. Pela ordem dos médicos veterinários e pelo código deontológico, a excepção de um ou outro caso particular, não podemos fazer consultas sem ser PRESENCIAL.

Em relação ao Piti, li o teu artigo e a tua resposta aqui no post.

Vou tentar seguir.

1- "Eu não sei ao certo, porque quando nós o ganhamos, ele já estava com aproximadamente nove meses"

Aqui está uma informação DE SUMA IMPORTÂNCIA: a idade!

Com pudeste ver, nove meses num cachorro corresponde, em teoria que o cachorro já tenha passado pelo inicio da SOCIALIZAÇÃO.

Ponto importante a saber: Como foi efectuado a criação dele? é um cão recolhido? criado em criadores? comprado numa loja?

2- Raça: Dachshund ou Teckel são raças bastantes equilibradas, carinhosas, afectuosas e extremamente energéticas no campo de "caça" (não te esqueças que essa raça foi apurada e orientada, pela sua conformação à caça pelo instinto exploratório), como muito bem descreveste no post, os teus jogos com ele, são prova disso, que se sente como "peixe na água". No entanto, são raças ciumentas quando existe laços de afectividade cão-dono muito fortes.

Relembro que esses laços podem ainda ser mais fortes (cachorro-dono)do que cachorro-mãe. O que suspeito que seja o teu caso.

Não sabendo nada do que aconteceu ANTES DOS NOVE MESES, deverás estar atenta ao teu processo de socialização e impregnação humana com ele, ou seja:
- vivias sozinha?
- Havia mais humanos ao teu redor?
- Se havia pessoas, iniciou-se um processo de aproximação com eles?
- Contacto com outros cães (físico e visual?) Houve ou não?

Se a maioria das respostas for negativa, é provável que tenha sofrido ou sofra de ansiedade de separação. Aconselho-te ir a um colega e propor um tratamento com psicotropos, em primeiro lugar, tentando desinibi-lo, mas sempre associado, com jogos e reverteres aos poucos tudo o que de respostas negativas houve.

Ex: se vives ou vivias sozinha em simultâneo à medicação, começa a introduzir pessoas onde elas próprias terão de participar, jogando, e por aí fora, entendes?

TUDO, DE FORMA LENTA,PROGRESSIVA E COM MUITA PACIÊNCIA!

Como ele é adulto neste momento, poderá ser mesmo lento, mas acredito que poderás ter algumas melhorias.

:-) espero-te ter sido útil
Beijinhos

Isa Grou disse...

Maria Paula,

Muito obrigada pelos seus conselhos, viu!
Para falar a verdade, todos que convivem comigo, gostam e cuidam do seus animais, levam seus cachorros para vacinar, procuram o veterinário quando preciso, e tudo...MASSSS, eles não tem paciência com o comportamento tímido e desconfiado do Piti não... Eu sou a única pessoa que conversa, brinca e entende que ele precisa de muito carinho...
Moro com a minha mãe, e até hoje o Piti aceita brincar com ela, mas só se eu estiver perto dele, caso contrário ele nem dá atenção ao que ela falar e vai p/ casinha e fica lá....basta ele ouvir a minha voz e já vem correndo e feliz...
Pelo que eu saiba, ele foi criado com outros cães, mas acho que não era bem tratado, pois quando chegou aqui, ele estava cheio de pulgas coitadinho......

Mais uma vez muito obrigada.
Bjs.

Maria Paula Ribeiro disse...

Isa,

:-), de nada
Continua a dar-lhe carinho!
Beijinhos

Anónimo disse...

Olá Paula, bom dia!

Você saberia me dizer quais seriam as principais causas da enurese noturna em um cão? Tenho uma Schnauzer Gigante que é só dormir ou ficar deitada bem relaxada que urina involuntariamente. Isto acaba se transformando num transtorno, pois não há como deixar ela ficar dentro de casa e os panos da caminha dela tem que ser lavados todos os dias.

Obrigada.

Abraços,

Angela

Maria Paula Ribeiro disse...

Boa noite Angela,

As casas de enurese são várias e seria aqui uma lona lista onde se perderia.

É importante saber:
- idade da cadela (presumi que fosse cadela)
- É castrada?
- Tem problemas congénitos de alguma historia de foro renal?

São factos importantes que me ajudarão a responder melhor a sua pergunta.

Disponha,
Abraço
Maria Paula

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