A ansiedade é um estado patológico sempre invalidante para o animal, tanto no plano relacional como no plano orgânico. Actualmente, são cada vez mais frequentes os diagnósticos de estados de ansiedade no cachorro, e esta situação é muito preocupante.
Embora não se possa tratar deste tema sem abordar certos aspectos evocados por ocasião de uma patologia concreta (por exemplo, a síndrome de privação), aqui centrar-nos-emos na génese e na prevenção das perturbações relacionadas com a ansiedade.
QUATRO PATOLOGIAS
Em matéria de ansiedade, no cachorro podem definir-se quatro entidades patológicas bem caracterizadas e cujas designações são suficientemente indicativas da origem das perturbações.
Assim, podem descrever-se as estereotipias de imposição, a ansiedade de separação, a ansiedade de privação e a enurese do cachorro no treino. É evidente que as causas da ansiedade do cachorro estão sempre relacionadas com um dos três tipos de circunstâncias seguintes: insuficiência de estímulos durante o desenvolvimento, ruptura dos laços de proximidade com o substituto materno ou situações de aprendizagem coercivas.
PARA EVITAR A PASSAGEM AO ESTADO PATOLÓGICO
No plano afectivo o cachorro é extremamente frágil, sobretudo entre as seis e as oito semanas. Durante este período, suporta muito mal a solidão e esta pode causar graves distúrbios emocionais ao cão jovem.
Antes de escrever os sintomas destas diferentes patologias convém insistir nos mecanismos que fazem passar o cachorro ao estado de animal psiquicamente patológico em cada caso. Como todos os pequenos mamíferos, o cachorro estabelece laços chamados de vinculação com a sua mãe ou com o substituto materno humano. Os primeiros laços são de natureza afectiva e, nesse campo, os que se tecem com um substituto materno humano parecem ser mais fortes, por vezes, devido à própria demanda afectiva da pessoa em questão, que encontra imediatamente uma resposta favorável no cachorro. Por outro lado, as relações de vinculação têm uma grande importância social, pois graças a elas (que por sua vez são também o resultado) é que se produz o «imprinting», ou seja, a identificação do semelhante através da imagem da mãe. Assim o cachorro é muito frágil no plano afectivo; por conseguinte, qualquer carência ou ruptura desencadearão violentas desordens emocionais. A permanência da relação deve ser total durante as primeiras semanas (entre seis e oito) e o contacto físico sempre possível, para que o cachorro possa sentir-se seguro directamente. A presença constante da mãe também estabiliza quando começa a explorar o meio que o rodeia (a partir das três ou quatro semanas), pois constitui o ponto de referência indispensável em todas as tentativas de progressão para o exterior.
Durante os seus primeiros meses, o cachorro tem de poder sentir a presença permanente da sua mãe. Esta tranquiliza-o em todas as circunstâncias e, quando o pequeno manifesta certas veleidades de independência, ela continua a ser a sua indispensável guia.
Fica claro, por conseguinte, que a pessoa que deixa o cachorro de seis a oito semanas só durante todo o dia lhe provocará uma crise afectiva muito violenta, se não tiver havido uma aprendizagem inteligente. A fragilidade afectiva e emocional tornam o cachorro muito sensível a qualquer agressão directa, se esta não ocorrer num contexto hierárquico claro. É tão recomendável corrigir sem contemplações o cachorro de oito semanas que procure apoderar-se da comida, como é nefasto castigar o animal que cometeu um erro durante a aprendizagem - ir preso pela trela, chamada, limpeza (no sentido humano) - porque isso provoca nele uma reacção de angústia muito patogénica. Há que insistir em dois pontos que se colocam em particular a propósito dos castigos e das recompensas, assim como da aprendizagem da limpeza; tratando-se de um cachorro, seja qual for a educação, esta deverá ser feita através da brincadeira e, no que se refere mais especificamente à limpeza, deve ser feita de maneira positiva e não negativa, isto é, deve mostrar-se ao jovem animal o que ele deve fazer e não castigá-lo (muitas vezes tardiamente) quando cometeu um erro. Submetido a uma angústia afectiva, o cachorro apresentará mais tarde fortes reacções emocionais, tanto comportamentais (inibição, estereotipias, agressão por medo directa ou redirigida) como fisiológica (principalmente micção e/ou defecação por medo, às vezes vómitos), e o seu equilíbrio psíquico ficará rapidamente comprometido.
Embora o cachorro deva ser tratado com delicadeza, isso não quer dizer que pode fazer todas as travessuras possíveis sem nunca ser posto no seu lugar. A sua fragilidade não lhe dá direito de ir meter o nariz em todo o lado.
Parte II: ansiedade de privação; enurese e estereotipia de imposição
18 comentários:
bem Maria Paula, gostava de meter um panfleto com isto nas caixas de correio de Portugal e arredores.
Ana Cristina,
Seria soberbo se Úrano me presenteasse com o euromilhão e tornar o teu desejo, concretizável, :-)
Bj
Venho com frequência ler o que escreves, mas raramente comento, pois não´é uma área que me seduza muito.
Não que não goste de animais, adorava ter um cão, mas compreendo que um apartamento não é o local mais apropriado. Gato? Pois, mas o cheiro intenso das necessidades e os cuidados constantes (limpeza, higiene, alimentação, saúde...), são desculpas a que me vou agarrando. Já é dificil a rotina diária de uma casa com dois filhos, a profissão, os hobbies, etc... Tentei os peixes, mas acabam todos por morrer (carma deles ou meu, não sei!)
Mas fico fascinada com tudo o que escreves e com o paralelismo que há entre os "universos" humano e animal.
Beijinho
Oi miga Paula!
Mt bom, tou a tornar-me repetitiva, mas gosto muito!
A tua forma de transmitir as coisas é excelente!!! ;)
Quero mais, força!
beijocas
Teresa,
Defendo SEMPRE a sensatez que os donos têm de ponderar se podem ou não ter um animal de companhia.
Por isso, não és obrigada a ter seja o que for.
Obrigado pelo incentivo e presença
Beijinhos
Bruna,
Também terás mais dentro em breve. ete tema está na recta final. :-)
Obrigado
Beijinhos
Paula
Ficas aqui com um conjunto notável de serviço público.
Parabéns.
António,
Meu grande amigo,
Uma palavra de ordem que prezo e amo: SERVIR!
E sempre que eu puder, sejam quais forem as circunstâncias. :-)
Obrigado.
Beijo
Paulinha, desculpa 'as perturbações' no teu ritmo de informações tão úteis, mas escolhi-te para te a proposta seguinte:
«Marcelo Novaes http://olugarqueimporta.blogspot.com/ passou-me a seguinte proposta:
1-Agarrar o livro mais próximo;
2-Abrir na página 161;
3-Procurar 5ª frase completa;
4-Colocar a frase no blog;
5-Repassar pra 5 pessoas.»
Se quiseres, podes dar mais uma voltinha a este carrossel...
O Marcelo é um poeta de mão cheia.
Um beijo,
Lucy
Lucy,
Já fui ver o blogue :-)
Beijinhos
Paula minha querida amiga,
Aprendemos muito com os teus "post", e como ao longo da vida já tive alguns cachorros bébés tento sempre identificar o que tu contas com as minhas vivências...
Bjs
Paula,
Era para 'alinhares' na proposta da tal corrente literária, mas não faz mal, o carrossel que gire para outras bandas.(lol)
Um beijo,
Lucy
Ana Cavaca,
Deverás fazê-lo assim, SEMPRE
De que nos valem os livros (a teoria) se não for acompanhada com vivências e observações? :-)
Beijinho grande
Lucy
Amiga... :-( não devo ter entendido, não! aiiiii
Beijinho grande
Bom dia Paula
Desculpa ter chegado atrasada á aula mas de facto ontem andei noutras visitas :) mas cá estou para aprender contigo.
Obrigada pela lição é sempre bom vir aqui.
Beijinhos
Adelaide Figueiredo
Adelaide,
Tarde ou cedo, o que importa é que estejas cá. :-)
Beijinho
Maria Paula, voltei para aprender um pouco mais!
Uma delícia de leitura para quem ama os animais.
Estou realmente agradecida.
Um beijão...
Astrid
Astrid,
Madrinha linda, e eu eternamente agradecida. :-)
Beijinhos XL ;)
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