20/01/2009

O DESENVOLVIMENTO DO CACHORRO

A socialização é a aquisição pelo cachorro dos sistemas de regulação comportamental indispensáveis à vida em sociedade. Se essa aquisição não se puder fazer, o cão sofrerá de desequilíbrios importantes.

Para puder regular as suas relações emocionais e os seus comportamentos em sociedade, o cão jovem tem de aprender a comunicar, a inibir-se e a reconhecer as situações hierarquicamente significantes. É esta terceira fase do desenvolvimento comportamental do cachorro que se chama socialização. Saber como ela se faz quando o cachorro é criado por cães deveria facilitar o seu correcto desenvolvimento nas famílias humanas.

O CACHORRO COM OS CÃES

Uma aprendizagem centrada no alimento


A socialização inicia-se passado o período de transição que marca o fim do desenvolvimento anatómico e histológico do sistema nervoso. Neste estádio, a cadela inicia o desmame progressivo dos cachorros oferecendo-lhes alimentos regurgitados. Por volta das cinco ou seis semanas, quando eles já são capazes de absorver a mesma comida que ela, a mãe leva-os para junto da matilha. É aí que vão viver o início da hierarquização, centrado no alimento.
Numa primeira fase, os cachorros respondem à fome tentando apanhar a comida disponível.
Os machos adultos ameaçam-nos e ensinam-nos a inibir-se e a esperar que chegue a sua vez.
Nestas circunstâncias, ao brincarem com os seus irmãos e irmãs os cachorros servem-se de posturas assimiladas e experimentadas entre as três e as seis semanas. Esses jogos são fundamentais para a socialização, pois permitem o estabelecimento dos rituais; assim, por exemplo, o cachorro que perde num simulacro de combate aprende a deitar-se de costas para interromper a luta. E frente ao cão adulto que o castiga acompanhando-o pela pele do pescoço, o cachorro cede e tenta deitar-se de costas. Então, o adulto pára de o castigar, o que lhe dá a compreender a vantagem de adoptar essa postura.

Dominar a força das mandíbulas


Do mesmo modo, o cachorro tem de saber dominar a força das suas mandíbulas. Estas permitem-lhe estabelecer todo o tipo de contactos com os seus congéneres. Por volta das cinco semanas (sete ou oito nas raças gigantes), o cachorro aprende o que se chama «mordedura inibida». Quando brinca com os outros cachorros ou com os adultos, mordisca com os seus dentes de leite, que são muito afiados. Como a congénere gane ou contra-ataca quando a mordedura atinge uma intensidade demasiado grande, o cachorro vê-se obrigado a aprender a controlar a força do seu contacto.Terá de aprender a morder afectuosamente, a apanhar uma parte do corpo do congénere sem lhe dar a sensação de apertar, a morder para remeter ao seu lugar um subordinado sem lhe provocar um ferimento sério, e também a morder para fazer mal, para matar.


A marginalização dos machos jovens

Uma vez assimilada a hierarquização no acto de se alimentarem, os machos e as fêmeas jovens seguem caminhos diferentes.
Os machos jovens têm um final de socialização mais bruscos, que implica o abandono do ninho.
Aos três ou quatro meses a mãe começa a tolerá-los cada vez pior, brinca cada vez menos com eles, lambe-os menos e adopta mais facilmente com eles comportamentos de agressão irritada. Quando chegam à puberdade (dos cinco aos sete meses nas raças de tamanho médio), a mãe, que sente as suas emissões de feromonas sexuais, deixa de aceitar os contactos físicos. A crise culmina com uma série de confrontos curtos, no quais o macho dominante se alia à mãe para expulsar os jovens machos; fala-se de marginalização porque os jovens passarão a viver na periferia do território da matilha.
Esta ruptura é indispensável para o bom desenvolvimento comportamental dos cachorros; se não se desse, poderiam sobrevir perturbações de sobre-dependência. Chama-se dependência ao conjunto dos laços sócio-afectivos entre a mãe e os cachorros; a ruptura desses laços constitui o abandono.


A competição mãe-filha

As fêmeas permanecem no ninho durante mais tempo, em parte porque estão inibidas pelas feromonas da mãe e alguns dos comportamentos desta e depois porque segundo parece, o primeiro cio não quebra os laços. Mas a partir do segundo cio surge a competição entre a mãe e a filha pela atenção dos machos dominantes e podem ambas acabar por entrar em luta uma com a outra.

NA FAMÍLIA HUMANA

O cachorro que vai para uma família humana às seis a oito semanas fica impregnado da espécie humana mas terá as mesmas etapas de desenvolvimento.
Ora bem, o mais frequente é deparar com uma sociedade que não sabe respeitar as exigências da sua socialização e põe as relações afectivas acima de tudo. Assim, a hierarquização centrada no alimento corre mal; os donos pensam que o cachorro tem fome e que deve alimentar-se bem, pelo que lhe dão de comer sempre que ele pede. Também não lhe reprimem as mordidelas porque não compreendem os indispensáveis rituais que lhes estão associados.
A situação chega ao cúmulo de o macho adolescente continuar a receber carícias de cachorrinho e passa a dormir na cama da dona.
São estes erros involuntários e bem intencionados mas muitos comuns, que estão na origem de muitos desequilíbrios comportamentais.

15 comentários:

Anónimo disse...

Olá Maria Paula achei o artigo muito interessante.Beijinhos.

Anónimo disse...

Olá Paula

Tanta coisa que eu não sabia! Obrigada pela lição.

Beijinhos

Adelaide Figueiredo

Anónimo disse...

Bom dia Paula

Cada vez melhor, ja tava com saudades de ler o teu blog (tivemos sem net), tudo o que escreves encaixa na perfeição!
Desculpa ontem o inconveniente, o meu Pai e teimoso, mas o motivo dos ossos não foi o maior, mas sim para te voltar a falar dos Rotários, sabes como é! Mas teve que levar a melhor, levou e levou mesmo os ossos para os meninos!É claro que eles adoram, depois ja não me ligaram nenhuma!è obvio!

Beijocas

Ps:sabes o que tou a fazer uns trofeus para a exposição dos Gatos, e não parece ter cá o teu contributo, pois não? :(

Astrid Annabelle disse...

Maria Paula, quanto aprendizado...estou adorando aprender com a Doutora!
Me ocorreu uma idéia maluca...seria uma forma de aprendizado animal quando a mulher tenta conquistar o homem pelo estômago??? rs,rs,rs......!!!!
Desculpe a piada nesse espaço de assunto sério...
Um beijão...Tás cá dentro!!!! Sempre.
Astrid

Anónimo disse...

Olá amiga,
Contigo estou sempre a aprender e isso é muito bom...
Bjs

Maria Paula Ribeiro disse...

Maria de Fátima,

Gata pela tua assiduidade e interesse
Bj

Maria Paula Ribeiro disse...

Adelaide,

Lição por lição,;-)
Jinhos

Maria Paula Ribeiro disse...

Bruna,

Obrigado.
Parece que o teu pai está mesmo entusiasmado! LOL
;) não há problema, linda.

Contributo? Fui ontem informada, por carta em mão, por terceiros.
Sabes como é: Sou pobre e humilde, mas há-os pobres de espírito, que não é o meu caso.
:-)

Abraço fraterno.

Maria Paula Ribeiro disse...

Astrid,

Amiga e madrinha, fizeste-me rir. E olha que as piadas também são muito bem vindas!
Mas esse aprendizado deve ser bem difícil, lol

Obrigado e beijinhos

Maria Paula Ribeiro disse...

Ana,

Sempre em frente, amiga
;)

Obrigado e beijinhos

Lucília Benvinda disse...

Paula, li e aprendi umas coisasa que não sabia.
Mais uma vez obrigada por tão valiosos ensinamentos.

Um beijo,
Lucy

Maria Paula Ribeiro disse...

Lucy,

Eu é que agradeço os elogios!
Beijinho muito grande.

Enfª Elisângela B. Martins disse...

Oi, Maria, adotei um cãozinho com 6 dias de vida (nasceu 06 ago) q foi rejeitado por sua mãe. 4ª cria dela com 8 filhotes, percebi q esse não estava se desenvolvendo como os outros estava BEM menor e apresentava sinais de hipotermia e talvez até hipoglicemia, pois não conseguia mamar. Ao tentar colocá-lo na mãe para mamar ela se levantava e saia e toda vez q os outros estavam mamando ele estava isolado "dormindo". Comprei leite próprio p/ ele e o mantenho aquecido com luvas de água quente. Ele está mais ativo, mas estou preocupada com o seu desenvolvimento, aparentemente parece não estar ganhando peso, ainda não abriu os olhinhos e agora começou a chorar quando começa a mamar a mamadeira (é normal?) Será q vc pode me dar alguma orientação??? Amei seu blog!!! Até mais!

Maria Paula Ribeiro disse...

Olá Enfª Dra. Elisângela,

Agradeço o eu testemunho.
É normal encontrarmos, dentro da ninhada filhotes mais pequenos. Pode ser por desenvolvimento incompleto, por vezes em ninhadas mais numerosas, ou então esse cachorro ter nascido com anomalias congénitas.
Quando a mãe pressente que a vitalidade do cachorro não é normal, ocorre o próprio afastamento por parte da mãe.
O crescimento diário, do cachorro deve ser, em média de 10% de ganho, por dia.
Se não está a atingir isso, veja se é alimentado de 3-3 horas e na quantidade correcta de ingestão de leite aconselhada. Por vezes existem malformações interiores (principalmente cardíacos e hepáticos) que inviabilizam o crescimento normal. Aconselho que seja feita uma consulta ou ecografia.

Abraço

Anderson disse...

Achei a materia muito interessante sou apaixonada pelos animais pricipalmente pelos cachorros q sao uma companhia maravilhosa tenho uma cadela q se chama sandy sou muito apegada a ela..vc ta de parabens..bjus Aline de minas gerais

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...