10/02/2009

AS FALSAS INTERPRETAÇÕES DO COMPORTAMENTO DO CÃO

Existe uma série de lendas e de preconceitos acerca do cão que ainda hoje são considerados verdades inquestionáveis.

É interessante observar que estas falsas interpretações, que se devem a milhares de anos de vida em comum entre o homem e o cão, fazem alternar um antropomorfismo, flagrante nos cinófilos (e particularmente marcado nos anglo-saxões), com um sentimento de repulsa herdado das tradições mediterrânicas. Assim, o mais fiel amigo do homem situar-se-ia entre o «cão que entende tudo e só lhe falta falar» e «o cão que não compreende nada e é só puro instinto».
Por mais caricatas que sejam, estas duas posições extremas resumem bem os diferentes pontos de vista que se manifestam na literatura cinófila e na linguagem popular. Falaremos aqui de alguns desses erros e procuraremos esclarecer as coisas.

«Quando saio, o cão destrói tudo o que apanha e faz as suas necessidades por toda a casa»

Além de isto não corresponder à realidade, pois o cão com um comportamento assim apresenta uma clara síndrome de separação, este conceito de comportamento provoca a deterioração da relação dono-cão. O cão deve estar a defrontar-se com um estado de medo, e castigá-lo só servirá para piorar as coisas.

«O meu cão é uma fera porque come demasiada carne vermelha»

Não é por o cão gostar muito de carne vermelha que se deve dar lhe mais do que aquilo que o seu organismo pode suportar, sob pena de lhe causar problemas digestivos ou excesso de peso, mas em caso algum correrá perigo de se tornar pior por isso.

Independentemente da dificuldade em definir a maldade, esta opinião baseia-se num preconceito sem fundamento relacionado com a absorção de sangue cru. A agressividade, que é uma tendência reactiva que se manifesta nos comportamentos de agressão, é um elemento normal do psiquismo destinado a permitir a sobrevivência do cão. Ora, o cão é carnívoro e é absolutamente normal que se alimente de carne, vermelha ou não, cozinhada ou crua; isso não tem qualquer incidência nas suas reacções comportamentais.

«Um cão que provou sangue humano torna-se perigoso»

Esta crença está relacionada com a precedente, e nela se encontram vestígios de antigos medos, indubitavelmente associados à imagem do lobo e dos animais «que comem as pessoas». Semelhante teoria pressupõe que se confundem todos os comportamentos de agressão e que estes são associados, em maior ou menor medida, com a predação. É extremamente raro que o cão morda um ser humano para se alimentar, e os exemplares que perseguem o homem como se fosse uma presa, se é que existem, são uma excepção. Geralmente, a mordedura está relacionada com a hierarquia, o medo, a irritação ou a agressão territorial (reforçada pela educação), e o contacto com o sangue do adversário não é de modo algum a causa de uma eventual recaída ou de uma acção mortal sistemática.

«A mão que acaricia não deve bater»

Há muitos treinadores, e também livros, que utilizam este axioma para justificar a utilização do jornal, dos chinelos ou até de um pau para corrigir os cães.

Quando o cão merece uma reprimenda, talvez o dono recorra a um jornal para lhe bater, de acordo com certos preconceitos. Mas o mais indicado é utilizar a mão. O cão não irá confundir com uma carícia a palmada que acompanha o ralho.


Esta precaução não tem qualquer sentido, por duas razões. Em primeiro lugar, a correcção não tem por objectivo provocar uma dor física, mas sim manifestar a desaprovação do meio para com o culpado. Por conseguinte, deve ser precedida e acompanhada de uma intimidação verbal e corporal por parte do dono. Além disso, como é o prolongamento da intimidação, a sanção física pode ser perfeitamente infligida com a mão sem que haja confusão possível com uma carícia, visto que a relação entre dono e o seu cão não é a mesma num caso e noutro. A mão é então o equivalente da boca do cão.

«Se o cão faz as suas necessidades em casa, tem de se lhes esfregar o nariz nelas»

Esta prática, que continua vigente apesar da sua demonstrada ineficácia, baseia se na ideia de que é repugnante meter o nariz nos excrementos. Ora, essa afirmação, que se aplica no caso do homem, não se aplica ao cão. A reacção deste último a esse tipo de castigo deve-se mais à brutalidade do gesto do que à repulsa. A verdade é que, na rua, o cão fareja a urina ou os excrementos dos seus congéneres.

«Os cães não gostam de uniformes, de pessoas de outras raças, de chapéus...»

Este é o tipo de opinião falsa que corresponde à transposição de uma reacção incómoda para o cão, que o dono procura justificar com estas palavras: «Vê como é normal esta reacção? Nem o meu cão gosta deles.» De facto, o que é que faz o proprietário quando se cruza na rua com alguém que tem uma dessas características? Antecipando a reacção do seu cão, puxa a trela para reduzir o raio de acção do animal.

Quando nas proximidades surge o carteiro, o polícia ou o guarda, muitos donos, desejosos de evitar problemas e de ficarem com a consciência tranquila, reduzem ao máximo possível o raio de acção do seu cão, porque, como sabe, «os cães não gostam de uniformes»...

Ao mesmo tempo, realiza pequenas tracções bruscas sobre a coleira, segundo ele para cortar o impulso do cão, que se lançaria contra a pessoa. Geralmente, também se observa uma alteração do ritmo da marcha e a crispação dos movimentos. O cão aprende assim que, na presença de certa pessoas, o seu condutor reage com inquietação e então «trata-as mal».



16 comentários:

Anónimo disse...

Olá Paula,
Oa teus esclarecimentos são sempre muito úteis...agradecida amiga.
Acrescentaria que um cão nunca esquece quem lhe faz mal ou é desagradável com ele...e reconhecem essa pessoa a léguas de distância.
Bjinho

Ana Cristina disse...

Gosto bem de ler estas clarificações, em todo lado vemos crenças erróneas :-)

Anónimo disse...

Oi Paula...!
Gostei muito, explica bem o que de errado nos comete.mos com os nossos maiores amigos..!Eles nunca nos falham, não é assim?
É bem verdade, a solidão pode tornar-se uma revolta dentro deles, exemplo mais que nitido na Lála e Lilo...:)

Tás preparada...Logo á noite...???
Beijocas fica bem miga

Maria Paula Ribeiro disse...

Ana Cavaca,

"um cão nunca esquece quem lhe faz mal ou é desagradável com ele."

:) a mouche! Também tenho um tema sobre isso,lol Mas vai ficar na manga por mais uns tempos, lol

Sempre grata pela tua presença, amiga.
Bj

Maria Paula Ribeiro disse...

Olá Ana Cristina,

Então, lê a vontade! :-) Que tu também me enches de boas leituras! :-)
Beijinhos

Maria Paula Ribeiro disse...

Bruna,

:))) O lilo e a Lala ainda vão ganhar ao "Marley e eu", lol lol lol
Já pensaste escrever?

Logo???? Já cá estou cm dor de barriga só de pensar.. :)
Fecho as oito, por isso, e como me é habitual, um atrasozinho da minha parte, lol Beijinhos ;-)

Anónimo disse...

Oi Paula..!
Sem problemas, nós tb ñ somos mt pontuais...;)

BJs..;)

Maria Paula Ribeiro disse...

:-) Bruna, lá estarei,

Então até mais logo
Jinhos

Joël Pinto disse...

Olá Paula.
Eu tenho a ideia de que os animais quando não gostam de certo tipo de gente, lhe rosnam e não os gramam. Se calhar, eles "sentem" o mau feitio de certo tipo de gente, a quem podemos apelidar de animais e vingam-se. Pena é não se vingarem pela calada como o fazem esses animais...
Jinhos

Unknown disse...

Paula

Aprendi bastante. Obrigado.

António

Maria Paula Ribeiro disse...

Joel,

Não sejas assim, cruel!

Claro que eles sentem energias negativas. Por vezes até podem ser boas pessoas mas carregadas negativamente. Cabe-te a ti não te ficares, só com a 1ª impressão.

E não é a "ferar pela calada" que se resolvem as coisas. :-)

Jinhos

Maria Paula Ribeiro disse...

António,

De nada. :-) O prazer é meu.
Kiss

Fada Moranga disse...

Rica Mestra, as pessoas metem tanto disparate na cabeca... Pobres animais! Apetece fazer uma arca de noe e leva-los para onde os tratem como merecem.

Quando tiveres uma barriga para coser avisa. :-))

Um grande beijo*de Fada

Maria Paula Ribeiro disse...

Fada,

Era preciso uma arca enorme! :-)
Por acaso vou te uma barriga para coser amanhã! :-)

Beijos

Anónimo disse...

Olá amiga

Gostei do que disseste. Tanta coisa errada anda por aí nas cabeças das pessoas! Mas cá estás tu para nos esclareceres. Obrigada mais uma vez.

Beijos

Adelaide Figueiredo

Maria Paula Ribeiro disse...

Adelaide,

:-) Eu também aprendo ao escrevê-los!

Beijinhos muito grande

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