15/02/2009

GRIGIO


O padre João Bosco deixou uma recordação inesquecível: acrobata nos seus momentos livres, é o patrono dos ilusionistas e o fundador da Ordem dos Salesianos. Nascido em 1815 e falecido em 1888, João Bosco foi canonizado pela sua obra junto dos «rapazes maus» de Turim. Mas houve um cão, não menos extraordinário, que desempenhou um grande papel na vida deste notável padre italiano.

Uma noite de Outono de 1853 ia João Bosco (clique aqui) por um rua mal afamada de Turim quando de súbito lhe apareceu um cão que começou a segui-lo. O sacerdote olhou surpreendido para o animal, que nunca vira. Fez-lhe uma festa. O cão ficou quieto por momentos e depois afastou-se.
A partir de então, sempre que o sacerdote se encontrava sozinho à noite num local perigoso, aquele cão aparecia, vindo de nenhures acompanhava-o e depois desaparecia. O padre Bosco deu-lhe o nome de «Grigio» ou seja Cinzento.
E de facto o animal era dessa cor. De tamanho grande, tinha um focinho fino, orelhas rectas, pelagem abundante e cauda empenachada.

SEMPRE QUE ERA PRECISO, LÁ VINHA ELE

Era cinzento. Tinha uma pelagem abundante, orelhas rectas e uma cauda em penacho. Grigio talvez se parecesse com este cão, antepassado dos actuais cães esquimós.

Naquela época, as perseguições contra o padre Bosco vinham dos valdenses, uns heréticos cujo último bastião foi o Piemonte e que pregavam a pobreza e repudiavam o culto dos santos, o sacerdócio e a maioria dos sacramentos. Uma noite, um homem disparou contra o sacerdote. Como falhara lançou-se sobre a sua vítima. Mas Grigio estava ali: atirou-se ao agressor e obrigou-o a fugir.
De outra vez, João Bosco avistou dois indivíduos alguns passos adiante. Sentido o perigo, voltou para trás, mas foi agarrado e enfiaram-lhe um saco pela cabeça antes que conseguisse gritar.
Surgido como que por milagre, ladrando, Grigio atirou ao chão um dos homens, filando-o pela garganta enquanto o outro dava às-de-vila-diogo. João Bosco fez o cão compreender que devia soltar o assaltante, que também fugiu a correr.
Outra noite ainda, o sacerdote foi atacado por um malandrim armado com um cacete. João Bosco que não tinha maneira de lhe escapar, teve de lhe dar um forte murro. O malfeitor deu um grito e das sombras começaram a sair todos os seus cúmplices. O sacerdote sentia-se perdido. Mas Grigio apareceu uma vez mais e, dando voltas em torno dele, mostrava ameaçadoramente os colmilhos.
- "Por favor" gritou um dos homens, chame o seu cão. Não vê que me vai atacar?
- "E o que quer que eu faça?" disse João Bosco.
- "Perdoe-nos, senhor padre, somos uns pobres diabos; deram-nos cem mil liras..."
- "E ter-me-iam matado por essa quantia?"
- "Chame o seu cão!"
- "Primeiro prometam-me que me deixam em paz a partir de agora".
- "Juramos por Nossa Senhora".
- "Grigio, vem. Bravo, salvaste-me a vida."

Houve apenas uma vez que o cão rosnou a João Bosco. Uma noite, preparava-se o padre para sair, Grigio impediu-o de o fazer. Cortou-lhe a passagem durante meia hora, obrigando-o a ficar em casa.
Pouco depois chegou um vizinho para o avisar: ouvira uma conversa e ficara a saber que lhe preparavam uma espera. Como soubera Grigio?
Outra noite, o cão entrou em casa do padre Bosco, aproximou-se dele e pousou o focinho na mesa em que ele jantava e tornou a sair.
João Bosco compreendeu: um amigo traíra-o, mais cedo do que previa. Inquieto por não o ter visto regressar, Grigio quisera assegurar-se de que estava realmente em casa.
O cão nunca aceitava comida do padre Bosco, nem nenhum abrigo. Quanto às crianças, podiam acariciá-lo e fazer-lhe quantas travessuras se lembrassem; deixava-sa puxarem-lhe os pêlos ou as orelhas.
Quando as perseguições a João Bosco cessaram, Grigio deixou de aparecer.

QUE EXPLICAÇÃO?

A história de Grigio é absolutamente extraordinária. Parece bem comprovada; surge em todas as biografias do santo e até em bandas desenhadas inspiradas na sua vida.
Era um animal de carne e osso e não um cão fantasma. Hipótese mais razoável é que fosse algum cão errante que terá ganho afecto ao sacerdote. Mesmo assim, como poderia ter dado conta dos perigos que o ameaçavam?
Claro que João Bosco tentou saber de onde vinha o cão. Quando mais tarde lhe perguntaram o que pensava, respondeu:

"Se dissesse que era um anjo, riam-se. Mas também não posso dizer que era um cão vulgar"

Cada qual é livre de classificar este fenómeno como lhe agradar: paranormal, sobrenatural ou milagroso. Mas é incrível que a história de Grigio, que parece saída de uma lenda medieval, se tenha passado há cem anos.

"Basta que sejam jovens para que eu vos ame.", "Prometi a Deus que até meu último suspiro seria para os jovens.", "O que somos é presente de Deus; no que nos transformamos é o nosso presente a Ele", "Ganhai o coração dos jovens por meio do amor", "A música dos jovens se escuta com o coração, não com os ouvidos." João Bosco

12 comentários:

Anónimo disse...

Olá Paula,
Muito interessante esta narrativa, que eu desconhecia, do padre João Bosco e do cão Grigio...
Mas se o cão, tal como tu dizes, era de carne e osso porque nunca comia nada do que o padre lhe dava???
Hum...a mim parece-me que era sim o seu anjo da guarda...
Bjinho grande

Maria Paula Ribeiro disse...

Bom da amiga Ana,

Talvez uma prova de "desapego" ;)para o Grigio e para o padre Bosco.

Eu não tenho dúvidas, que era mesmo um anjo da guarda. ;-)

Beijinho muito grande e uma boa semana.

Anónimo disse...

Bom Dia Paula ;)

Ui ui.. este dá que pensar! Gostei muito.. os sentimentos nem sempre têm que ser explicitos, grande parte das vezes não o são, mas a nossa falta de visão impossibilita-nos de os ver claramente...! Quando estão mesmo á frente do nariz..;)

Beijocas Bom dia Trabalho

Fada Moranga disse...

Era um caojinho da guarda!!!

Que historia tao linda. Nao conhecia. Bem hajas por este servico publico. Rica Mestra!

Um grande beijo*deFada

Maria Paula Ribeiro disse...

Bom dia Bruna,

Há tanto frente do nosso nariz, e não vemos!
Ou porque o nariz é grande, ou porque não estamos preparados para o ver. ;-)

Bj e bom trabalho para ti.
:-)

Maria Paula Ribeiro disse...

Fada,

Viva, minha amiga.
Eu também não a conhecia. Este mês de "histórias soltas" tem sido uma verdadeira busca de novidades.:-)

Bj. e boa semana

Unknown disse...

Bom! Que surpresa ler este post, mas faz-me muito sentido lê-lo aqui.

A coisa já vai nos santos católicos. Fico à espera do dia em coloques «aquela» história do monge zen budista.

Beijinho

Maria Paula Ribeiro disse...

António,

Tu é que me surpreendes, pois entendes de tudo um pouco... :-)

Tenho de ir ver dessa história que desconheço.
Bj

PS: Nem imaginas onde irei chegar co estas histórias! Mas tudo tem a sua sequência, pois preciso, "semear" primeiro, lol

Anónimo disse...

Olá Maria Paula não conhecia esta história nem as anteriores sobre os cães.Gostei muito de as ler.Beijinhos e boa semana.

Anónimo disse...

Maria Paula

Para mim, assim como para a maior parte das pessoas que leram esta história, era mesmo o anjo da guada de João Bosco.

Gostei muito, continua que eu cá virei aos poucos ver os teus escritos :)

Beijhos

Adelaide Figueiredo

Maria Paula Ribeiro disse...

Olá Mimi,

Obrigado linda e ainda bem e gostaste.
Uma boa semana para ti também.
Beijinhos

Maria Paula Ribeiro disse...

Adelaide,

Espero que estejas bem, amiga.
Temos sentido a tua falta, lol

Cá te receberei, sempre.

Beijinhos e que tudo corra bem!

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