17/02/2009

VICTOR HUGO E OS CÃES

Em 8 de Maio de 1882, foi fundada em Paris a primeira sociedade francesa contra a vivissecção e as torturas infligidas nos animais.O seu presidente era Victor Hugo. O bilhete postal editado por esta associação representa um cão que, depois deter sido feliz, se perde e é submetido à experiência.



Não tem nada de surpreendente esta iniciativa de Victor Hugo (clique aqui) cuja obra está impregnada de um amor profundo pelos animais em particular pelos cães.
Na sua peça
Marion Delorme (1831), dois personagens discutem sobre as feridas que os rivais podem causar um ao outro duelo. Um deles pronuncia estes versos, que certamente visam os biólogos:
Segundo vós, e como vedes, penso
que é falso o sangue passar pela jugular,
e deveria castigar-se Pecquet e os cientistas
que rasgam cães vivos para lhe observar os pulmões.

(Jean Pecquet era anatomista do século XVII).

Hugo teve vários cães: um deles,
Ponto, inspirava mais o escritor do que os outros, visto que deu o nome a um poema de Contemplations, escrito em Jersey em 1855. O poema começa assim:

Digo ao meu cão negro: Ponto, vamos.
E vou pelo bosque como um camponês.

Os relatos de atrocidades que pôde ler durante o passeio convenceram-no da inocência do cão. E acrescenta:

O cão é a virtude que podendo tornar-se homem se fez
animal,
e Ponto olha-me com os seus olhos leais.

O REGRESSO DE BARON


Há duas histórias protagonizadas por cães de Victor Hugo que são muito estranhas e ainda hoje não foi encontrada qualquer explicação para elas.
Um belo dia, ofereceram ao escritor um
caniche chamado Baron. O animal afeiçoou-se ao seu novo dono, cuja vida, então agitada, era compatível com a guarda de um animal. E Baron foi oferecido ao marquês de Faletans, aliado da embaixada em Moscovo.
Este decidiu levar
Baron para a capital de todas as Rússias. Vários meses depois, Victor Hugo recebeu uma carta do marquês informando-o do desaparecimento do cão.
Passaram-se várias semanas, até que uma noite, em Paris, a criada do romancista acordou com os latidos lastimosos que se ouviam à porta. Julgou reconhecê-los e abriu. Em casa entrou um cão enfraquecido e sujo, com as patas ensanguentadas. Era
Baron.
Acordado
pela criada, Victor Hugo levantou-se contrariado, mas o mau humor deu lugar à alegria quando se apercebeu que era Baron. O cão ainda viveu mais sete anos.

Será verídica esta história, ou fará parte da lenda de Victor Hugo? É sabido que há cães e gatos que percorrem grandes distâncias para voltar para o seu dono, embora não se explique como podem fazê-lo. Em todo o caso,
Baron teria percorrido cerca de 2150 quilómetros num mês, ou seja, 90 quilómetros por dia. Demasiado, talvez.

O PASSEIO FANTASMA


Victor Hugo em Jersey. Durante o exílio, o célebre escritor, cuja obra está impregnada de um profundo amor pelos animais, viveu aventuras mais do que surpreendentes, nas quais se misturam os cães

Quando
estava exilado em Jersey, Hugo tinha uma cadela cinzenta de raça pastor Chougna. Ora, num dos diários íntimos de Hugo existe uma nota muito estranha em que os protagonistas do facto relatado são designados apenas pelas suas iniciais. A nota é de 21 de Junho de 1856.
Um dia, uma jovem criada saiu de Marine-Terrace, a casa do escritor, para se banhar na praia de Azette na companhia de
Chougna. De acordo com as leis locais, a cadela levava açaimo (os cães vadios eram perseguidos na ilha por um personagem sinistro que os apanhava a laço). A rapariga e a cadela foram brincar com as ondas.
Pouco depois, Victor Hugo, vestindo um sobretudo pardo, calças, colete cor de ardósia e chapéu cinzento, foi passear na praia.
Chougna lançou-se a correr para ele com latidos lastimosos, como que para lhe pedir que tirasse o açaimo. Hugo fê-lo e pôs-lho em redor do ventre. Os dois continuaram o passeio.
Pouco depois, Hugo entregou
Chougna a Marie, a cozinheira, que estava no umbral da porta. Marie disse a Hugo: «Olhe, leva o açaimo no ventre». «Sim, respondeu ele, rindo, «porque lhe magoava o focinho. Tirou-o e, para não o perder, atou-o a meio do corpo». E foi-se embora.
Nessa noite, ao jantar, a criadita contou o que se tinha passado durante a manhã. Victor Hugo fê-la repetir duas vezes e Marie confirmou-o.
E o escritor termina assim o relato: «Depois de jantar, M.H subiu para o seu quarto profundamente pensativo. Não tinha saído todo o dia.»

A propósito deste episódio, um dos melhores biógrafos de Hugo, Henri Guillemin, observa que «é evidente que se trata de um caso real e desconcertante. Senão veja-se».
Trata-se do dom da ubiquidade? Teria ido Hugo a faculdade de se encontrar simultaneamente em dois sítios ao mesmo tempo? Ou seria simplesmente uma perda de memória? Tinha Hugo esquecido o que tinha feito de manhã?


Recorde-se que, quando estava em Jersey, o escritor passava as noites a falar à mesa com os seus partidários. Estas sessões eram esgotantes e tinham afectado gravemente o seu psiquismo.

E, além disso, de Victor Hugo tudo se podia esperar.

Está pois a pena de morte abolida nesse nobre Portugal, pequeno povo que tem uma grande história. (...) Felicito a vossa nação. Portugal dá o exemplo à Europa. Desfrutai de antemão essa imensa glória. A Europa imitará Portugal. Morte à morte! Guerra à guerra! Viva a vida! Ódio ao ódio. A liberdade é uma cidade imensa da qual todos somos concidadãos.
Victor Hugo, 1876, a propósito da abolição da pena de morte em Portugal (o primeiro país europeu a fazê-lo).

10 comentários:

Ana Cristina disse...

muito interessante Maria Paula. :-) fico à espera de uma dose de histórias acerca de um outro pet :-)

Unknown disse...

Paula,

Isto está a ficar nice. Dos santos passamos para escritores famosos. Que virá a seguir? Será este?

http://www.garwood-voigt.com/H24492BernhardtHenderson.jpg

:)

Fico à espera.

Gostei muuuuuito do post.

Maria Paula Ribeiro disse...

Ana Cristina,

:-) Este mês será todo ele assim. E curioso, sempre detestei história e estou a ter um gozo neste momento. :-)

Bj linda

Maria Paula Ribeiro disse...

António,

"Que virá a seguir? Será este?"
Ainda não sei, quando Úrano estiver a jeito...

E, continuando na onda da resposta à Ana Cristina, é curioso, como a maior parte deles estão relacionados, e mais, "estavam" nos 2 sítios que visitei em Paris, no Natal. Ok Ok, talvez sejam coincidências...mas eu já não acredito nisso..
Em relação à Sarah Bernhardt, está tb no père Lahaise, lol...
Mas não tenho ainda uma história sobre ela, por isso meu caro amigo, podes esperar, mas não creio que será essa a história.

:-)

Bj

Anónimo disse...

Olá Maria Paula continuo a gostar muito de ler estas histórias todas.Beijinhos.

Anónimo disse...

Olá Paula,
O que disseste acerca dos cães percorrerem grandes distâncias para irem ter com os donos é bem verdade. Uma vez o meu pai, ainda eu era criança, deixou o nosso cão, no fim de semana, na aldeia com os meus avós e não é que para nosso espanto ele apareceu, na segunda feira, na nossa casa, em Trancoso!!!Fantástico...nunca pensei que ele fizesse tal coisa...e olha que são cerca de 25 Km...

Maria Paula Ribeiro disse...

Olá Mimi,

Grata.

Beijos

Maria Paula Ribeiro disse...

Olá Ana Cavaca,

Pois também nos aconteceu o mesmo com os cães da quinta, na época.

Beijinhos

Anónimo disse...

Amiga,

Vais ficar famosa com a publicação destas lendas. Gostei muito

Beijinhos

Adelaide Figueiredo

Maria Paula Ribeiro disse...

Bom dia Adelaide,

Estas lendas já existem. Eu só as fui buscar de volta à tona!

Beijinhos

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