12/01/2009

MATERNIDADE: AS PERTURBAÇÕES DO COMPORTAMENTO MATERNO - PARTE II

O comportamento materno da cadela resulta de mecanismos de aprendizagem, que apenas afecta as cadelas equilibradas no plano emocional e que tenham tido uma socialização correcta.

Quanto menos se reunirem todos estes factores na cadela, mais comprometida ficará a educação e sobrevivência dos seus cachorros. O grande número de cachorros afectados por perturbações comportamentais precoces está directamente relacionado com alterações das condições de desenvolvimento das mães. Vamos agora descrever essas perturbações por ordem crescente de gravidade.

AS MÁS MÃES

A menos importante de todas elas, e também a mais facilmente curável, é a das cadelas que os criadores qualificam de «más mães», devido à baixa percentagem de sobrevivência das ninhadas que elas têm. A observação verifica-se tratar-se de fêmeas multíparas (que já tiveram várias ninhadas), cujo comportamento materno é o de cadelas primíparas (que estão na primeira ninhada).
Assistem mal os cachorros quando estes nascem e não sabem como fazer para lhes cortar o cordão umbilical, não lhes provocam com a frequência necessária a eliminação de urina e das fezes, controlam mal a temperatura dos cachorros, em resumo, não cuidam da sua progenitura. No entanto, o progressivo desaparecimento dos cachorros afecta-as e é frequente ver essa mães procurarem freneticamente as crias, lamentando-se.
Quando se estuda o passado destas cadelas, verifica-se que se trata de cadelas que não tiveram contacto com outras fêmeas e cujos partos foram sempre assistidos pelo homem. Devido a isso, não pôde fazer a aprendizagem dos cuidados que devem prodigalizar os cachorros nem pela imitação de cadelas com experiência, nem por treino progressivo (shaping), por não se ter querido que o animal se apercebesse que os filhos morriam por causa da sua inabilidade.
Esta é uma forma clínica de bom prognóstico, embora a sua evolução espontânea suponha o agravamento se não mudarem as condições de maternidade.

AS ANOMALIAS MAIS GRAVES

Hoje em dia é cada vez mais frequente observar cadelas que não têm nenhuma relação afectiva com os cachorros e manifestam comportamentos de medo que podem chegar até à agressão. Finalmente, estas fêmeas não têm qualquer comportamento de nidificação (em geral, é-lhes difícil acasalar, por vezes mesmo impossível, e a fecundação talvez só seja possível mediante inseminação) e o parto pode trazer dificuldades: não fazem qualquer esforço para expulsarem os cachorros e largam-nos por toda a casa. Os filhotes assim dispersos mal têm possibilidade de sobreviver, a não ser que o dono da cadela se ocupe deles. Quando a obrigam a cheirar ou lamber os filhotes, pode acontecer que morda, também desta vez, por medo. Além disso, nega-se à dar-lhes de mamar.

Se o homem intervém para salvar os cachorros, estes apresentarão perturbações comportamentais graves por culpa da mãe, em particular depressão de abandono, uma das patologias comportamentais mais sérias do cão.

Paola, rejeitada totalmente pela mãe

Todas as cadelas que apresentarem anomalias comportamentais deste tipo são animais cuja impregnação de aprendizaem (mediante a qual o animal aprende, entre as três e as oito semanas, a reconhecer os seus congêneres) se fez mal, ressentindo-se por isso à sua socialização. Tais fêmeas não se identificam com a espécie canina e não sentem absolutamente nada pelos cachorros. É frequente tratar-se de animais adquiridos demasiado cedo pelos donos, que talvez tenham sido criados a biberão e cuja impregnação se fez em relação à espécie humana. O prognóstico desses casos é reservado.


O CANIBALISMO

A estes dois quadros clínicos costuma-se juntar-se o canibalismo, que se define como uma aberração clássica do comportamento materno. Na realidade, trata-se de um acidente que pode ocorrer nos dois casos acima citados.
Nas cadelas inexperientes, o canibalismo desencadeia-se muitas vezes por um corte mal feito do cordão umbilical, que provoca a ruptura da parede abdominal do cachorro e, por conseguinte, uma chaga grande que a mãe lambe.
Nas cadelas que tiveram um má impregnação em relação à espécie canina, o canibalismo costuma surgir como consequência de um comportamento de agessividade provocado pelo medo que a presença dos cachorros lhe faz.

A terapêutica destas perturbações é sempre longa e difícil. No primeiro caso, procurar-se-á favorecer a imitação pondo as cadelas inexperientes junto de cadelas experientes e permitindo-lhes depois fazerem sozinhas o parto.

Nas cadelas que apresentarem perturbações do desenvolvimento, a terapia é mais incerta. Na medida em que obriga a recriar as condições de uma socialização que possa remediar as carências registadas, terá de ser longa. Alias, é frequente não se encontrar nenhuma solução, e nesses casos os elementos mais incontroláveis costumam ser a paciência e a necessária compreensão dos proprietários.

Dolly, uma cadela que apresentou problemas de socialização graves, tendo sido o parto assistido na Bandarravet, e reforçado o shaping, até poder cuidar dos cachorros, sozinha.

19 comentários:

Lucília Benvinda disse...

Olá Paula!

Gostei muito de ler este artigo e reavaliar as minhas 'mamãs' apanhadas da rua. Foram realmente cadelas exemplares no tratamento com as suas crias. Pelos vistos, as que lhe serviram de 'modelo' foram óptimas. Não me deram trabalho nenhum. A Lily, de princípio não deixava que os seus filhotes lhe fugissem ao controle, era uma roda viva sempre a abocanhá-los e metê-los no ninho. Procurava a melhor posição para amamentar os seus cinco filhotes. Não deixava que os filhos da Lolita se abeirassem do seu ninho.
Já a Lolita, uma mãe mais liberal, a ponto de amamentar qualquer um que lhe puxasse pela teta. Acabou sendo a 'central de leite canina' - passou, a determinada altura a amamentar os doze cachorrinhos. A Lily, desde que se viu negra para segurar os filhos deixou de lhes dar de mamar. A Lolita acolheu-os a todos e pô-los 'rijos'.

Agora só ficou a Zizy - filha da Lolita - que ainda hoje, com 7 meses, ela a lambe e cuida. Zelos de uma cadela cheia de sentimentos afectuosos.

Em contrapartida, tive uma cedlinha "Bonny", que morreu o ano passado com cancro da mama. Essa menina, já vi pelo teu relato, que não se identificou com a espécie e sempre rejeitou 'cão'. Nunca foi preciso ter cuidados com o cio. Foi apanhada da rua recém-nascida e amamentada a biberon. Eu era a mãe que ela reconhecia como tal. Infelizmente moreu jovem e deixou uma saudade imensa. Era daquelas criaturas que só lhe faltava falar... como usualmente se diz.

Já me alarguei muito, mas deu-me para o desabafo.
Obrigada por me ajudares a compreender melhor as minhas meninas.

Um beijinho

Maria Paula Ribeiro disse...

Lucy,

Nunca são longos os testemunhos maravilhosos que possas aqui dizer, pois há vivências que não estão nos livros.
E eu também aprendo ou confirmo o que também vejo.

A minha Ara a Chow, para além de ser uma raça, dita primitiva encaixou-se nas "más mães", e com o tempo e esforço aprendeu tão bem a lição que nem o pobre do pai podia até aos 35 dias se aproximar dela!

Tal como nos humanos, existe um período crucial no desenvolvimento do cachorro, que a norma não segue, pois para a maioria dos donos, quanto mais cedo sair, melhor, pela despesas incutidas...

Agradeço-te imenso o teu relato.

Beijinho muito grande

Astrid Annabelle disse...

Olá afilhada querida!
Aos poucos estou visitando meus amigos e seus excelentes blogs!
A sua matéria desse post me emocionou muito...lembrei quando a Íris deu cria. Foi muito amorosa e cuidadosa e soube ser uma excelente mãe.
Agora depois de quatro anos da primeira cria se enquadrou nas "más mães". Partiu para o canibalismo de um único filhote!!!
Que coisa!
Bem, voltei cheia de saudades e prometendo um email pessoal em breve.
Um beijão XLX..."tás cá dentro também!!!"
Astrid

P.S. tem resposta no blog para você!

Anónimo disse...

Olá Paula
É impressionante o que eu simples parto e a maternidade pode provocar nas cadelinhas...! Gostei muito de ler muito esclarecedor!
Quero ler mais...!

Beijocas

Maria Paula Ribeiro disse...

Madrinha Astrid,

Não imaginas a felicidade que me trouxeste neste dia. :-)

Agradeço o teu testemunho em relação à Íris. Enquadra-se bem nas alterações comportamentais, por vivência com humanos, "esquecendo" a parte canina.

Obrigada amiga.
Sempre estarás cá dentro!

Beijo grande

Maria Paula Ribeiro disse...

Olá Bruna,

É verdade. Por isso continuo insistindo nos "criadores" em entregar as crias mais tardiamente. Mas um longo caminho está a frente...

Queres ler mais?

Próximo post: A socialização do cachorro.
Soa-te bem?

Beijinho

Anónimo disse...

Olá amiga,
Adorei saber mais sobre as cadelas e as suas crias, havia pormenores que desconhecia,como é o caso do canibalismo e dos cachorros criados a biberão pelos humanos que acabam por não se identificar com a sua raça.
Muito bom saber...
Bjinho

Maria Paula Ribeiro disse...

Boa noite Ana Cavaca,

Ainda bem que ficas a saber!
E eu contente por saber que assim é.

Segue o próximo post, que também irás gostar.

Beijinho grande

Anónimo disse...

Bom dia Paula!

Soa-me lindamente!Tenho de aprnder estas coisas para pensar bem na Lala no futuro!

Ja agora esta tua nova foto tá brutal!Muito catita..;)

Beijocas
PS:Quando devo ir com os meninos á vacina?

Maria Paula Ribeiro disse...

Bruna,

Dentro de dia ou mais logo a noite...

;) Jinhos

Anónimo disse...

Olá amiga Paula

Gostei muito de ler este artigo. Coisas que eu não sabia. Sempre a a aprender amiga

Beijinhos

Adelaide Figueiredo

Maria Paula Ribeiro disse...

Adelaide,

E sempre recebendo incentivo em continuar;-)

Beijinhos

Anónimo disse...

Olá Maria Paula quando leio o teu blogue aprendo sempre coisas diferentes e interessantes.Beijinhos.

Maria Paula Ribeiro disse...

Mimi,

Obrigado pelo incentivo! É muito bom saber isso, sabes?

Beijinhos

princesaesquimo disse...

Muito interessante Mary Paula. Nem imaginava que pudesse ser assim. Deve ser extremamente difícil corrigir estes casos.
Beijinhos

Maria Paula Ribeiro disse...

Olá Sam,

Difícil ou por vezes, quase impossível, restando-nos cuidar e tentar salvar o pequenotes.

Beijinhos

Unknown disse...

Olá !
Meu nome é Bruno e escrevo do Brasil. Estou no último período do curso de Medicina Veterinária e a area que mais me fascina é a de comportamento. Estou escrevendo meu trabalho de conclusao de curso com o tema de comportamento materno, mais especificamente o canibilismo materno, que é comum na raca Fox Terrier. Estou encontrando muitas dificuldades para encontrar artigos ou livros sobre o assunto. Se puder me ajudar indicando artigos ou livros sobre o assunto agradeceria muito.
Meu email é brunimppv@hotmail.com

Desde já grato

Bruno Chamelete
Desde já grato.

Anónimo disse...

Muito lindo seu trabalho, parabéns! Minha cadela recém teve 6 cachorrinhos e estou aprendendo como ajudá-la nos primeiros dias (estão com 3 dias. Grande abraço desde Brasil.

Anónimo disse...

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