14/01/2009

A SOCIALIZAÇÃO DO CACHORRO

No cabal desempenho da tarefa de um criador não basta a entrega ao cliente de um cachorro correctamente desmamado, alimentado e cuidado. O seu bom estado físico deve ser acompanhado de um bom equilíbrio psíquico; acima de tudo, o cão é um animal de companhia e nunca se insistirá bastante em como é essencial o seu carácter.

O temperamento do cão é influenciado por dois factores: a hereditariedade, que determina «o inato», e o meio ambiente e a educação, dos quais depende «o adquirido». Muitas vezes, as experiências que ele tem durante as primeiras semanas de vida condicionam todo o seu comportamento de adulto. Por isso, recai sobre o criador uma responsabilidade considerável.

UM MOMENTO CRUCIAL: A QUARTA SEMANA

Todos os sentidos do cachorro despertam ao vigésimo primeiro dia, idade que o norte-americano Campbell - autor de uns testes famosos - considera crucial para a sua socialização. Depois dessa idade, pode-se estimar que a quarta semana de vida é muito importante, pois é durante esse curto período que os cachorros descobrem o mundo.
O papel do criador nesse momento é crucial. Já não se pode limitar a limpar o local e encher os comedouros. Tem de se ocupar dos cachorros, participar nas suas brincadeiras e de falar com eles. É este o melhor meio de os familiarizar com o homem. A tarefa nada tem de aborrecido, pois nessa idade os cachorros são umas tais «fofuras» que é difícil deixá-los.

"Bruna da Terra do Bandarra" de nome familiar Zola, uma cadela Chow Chow da minha criação

ASSEGURAR O DESENVOLVIMENTO FÍSICO DOS CACHORROS

Quando os cachorros começam a andar têm de ser tirados da caixa do parto (ou suprimir os rebordos desta) para se poderem mexer e fazer exercício.
Está comprovado que existe uma enorme diferença entre os cachorros que contam com um parque para se moverem à vontade e os que ficam confinados demasiado tempo a um espaço reduzido. Os primeiros desenvolvem-se harmoniosamente e são vivos, alegres e curiosos. Os segundos costumam ficar muito gordos por causa da falta de exercício, e, como a sua musculatura se atrofia, pode acontecer que as patas não aguentem o peso do corpo e se entortem; além disso, são animais moles, pouco despertos e por vezes medrosos.
Os cachorros não só devem dispor de um recinto suficientemente amplo, como também da luz do dia e de sol (indispensável para a formação dos ossos), além de um espaço vital que seja absolutamente limpo e salubre.

Zola, na descoberta de objectos, sempre vigiada pelo pai Avalon

FAVORECER O DESPERTAR

Além destas preocupações de base, pode-se favorecer o despertar dos cachorros pondo à sua disposição diversos objectos (pequenos túneis, esconderijos, bolas, brinquedos para morder). Compete então ao criador estar atento aos cachorros como uma mãe com os seus filhos e procurar fazer com que não haja ao seu alcance nenhum produto tóxico nem nenhum objecto que eles possam engolir (inteiro ou em bocados), etc. Da quarta à sexta semana, o criador começa a conhecer cada um dos seus protegidos. Terá de dedicar uma atenção especial aos que parecem mais timoratos e até mesmo de os levar a passar bocados dentro de casa. O contacto com as crianças pode fazer-lhes muito bem.
Também é importante os cachorros familiarizarem-se tão cedo quanto possível com os ruídos fortes ou insólitos (motores de veículos, obras, corta-relvas, buzinas, etc.). Não se trata de os «atordoar» com estímulos exteriores permanentes, mas sim de os habituar tão depressa quanto possível aos contactos humanos e às situações correntes da vida. Deste modo, ser-lhes-á depois mais fácil sentirem-se bem em qualquer circunstância.
Registe-se também que o cachorro que tem a possibilidade de se desenvolver psíquica e fisicamente cresce melhor, come melhor e, por conseguinte, torna-se mais robusto resistente. É esta a diferença entre o cachorros criados em condições sanitárias e afectivas perfeitas e os que «tratadores de cães» pouco escrupulosos vendem. Os segundos expõem-se a sucumbir ao primeiro vírus ou a sofrerem para toda a vida as consequências de um mau começo.

Zola e Pimpim

O MELHOR MOMENTO PARA ENTREGAR O CACHORRO

O criador sério está quase certo de poder satisfazer os seus clientes e até pode permitir-se oferecer garantias bastante amplas. É uma vantagem suplementar para a reputação, a sua imagem de marca. Resta saber a partir de que momento o criador pode considerar que «cumpriu o contrato» e planear a saída dos cachorros. Campbell considera que o momento ideal para entregar o cachorro é aos quarenta e nove dias de vida. Esta e também a idade que propõe para o seu texto. Mas na realidade tudo depende das raças. Considera-se que o cachorro pode abandonar o criadouro logo que for completamente autónomo e estiver suficientemente protegido pelas vacinas. Em geral, essas condições estão preenchidas às sete oito semanas do animal.
Mas é frequente surgir um problema, o do «cachorro que não conseguiu vender», o qual pode ficar mais tempo, por vezes até aos cinco ou seis meses. É essencial que o criador apesar de ter a seu cargo um grupo numeroso lhe dedique a atenção e o tempo que forem precisos para o confrontar com o mundo exterior (passeios de carro, contacto com cidade e as pessoas) antes dos três meses, e que repita essas saídas todas as semanas até ele partir. É o único meio de evitar que o animal adquira o típico carácter medroso do «cão de canil». É frequente os compradores não quererem adquirir cães com seis meses. Ficam mais «deslumbrados» com uma pequena bola de pêlos do que um cão quase adulto. Além disso, consideram que o cachorro se adapta e se educa tanto melhor quanto mais pequeno for, o que nem sempre é verdade. Pode-se comprar um cão de dois meses que será «mal educado» toda a sua vida, ao passo que um exemplar de mais idade pode adquirir bons hábitos em poucas semanas ou mesmo dias se o dono se der ao trabalho de o educar. Na realidade, o animal é sempre receptivo a uma educação coerente quando não tiver recebido outra.
Comprar um cachorro já crescido também pode representar uma vantagem interessante, sobretudo para o criador ou o expositor; tem-se uma ideia mais clara da sua conformidade com o estalão e pode-se examinar-lhe a dentadura, o carácter ou os andamentos. E como é evidente, o criador terá muito mais possibilidades de convencer o cliente com estes argumentos se lhe apresentar um exemplar manifestamente equilibrado e não um animal morto de medo e encolhido a um canto. Seja qual for a idade dos cães, o criador tem de procurar sempre vendê-los a pessoas sérias e motivadas.

Zola, no dia da despedida para os seus novos donos, a eles continuarem a socialização

14 comentários:

Ana Cristina disse...

este blog está a ficar uma excelente base de dados :-) e serviço público. Já o tenho indicado a amigos como tal.

Maria Paula Ribeiro disse...

Boa noite Ana,

Muito obrigado, linda.

Este 2009, é que iniciou com este "gás" todo, lol.
Coincidindo, é óbvio, com a maioria de consultas relacionadas com esse tema. E assim ajuda a fluir...

E os leitores gostam! :-)
Bj

Fada Moranga disse...

Sim senhora! Da gosto ler e aprender aqui nesta escola!

Um vez ouvi "Os animais mimetizam o comportamento dos donos" e isto marcou-me. Passei a dar muito mais atencao a tudo o que os animais fazem e compara-los com os donos... Que tal um post sobre " A socializacao do Dono"? :-)

Beijos***de Fada

Anónimo disse...

Maria Paula, bom dia e um sorriso de amigo. A tua devoção pedagógica para que os animais sejam mais felizes quando alguém se julga preparado para os perfilhar. A humanidade vai sendo mais justa se beber do sumo das tuas palavras. Porque ser mais justo com os animais nossos amigos, leva-nos a ser mais justos com os nossos iguais.
Beijo grande e amigo

nota:
copiei para aqui a minha resposta ao teu comentário no neo, para te evitar a viagem...

Maria Paula
Imagino a beleza do teu sorriso ao escreveres este comentário. São muito belas as palavras que dissestes e digo-te que já tinha,tenho, em mente escrever sobre a Maria Paula, que até tem um nome que me é querido.Mas preciso ainda de te sentir a alma, porque se inquieta, amores impuros? inconcistentes? E sonhos?
Um beijo e um abraço quentinho, de amigo

Maria Paula Ribeiro disse...

Fada,

:-) Obrigado. " A socializacao do Dono"?, LOL

Vou pensar nisso, mas este fim de semana, não haverá leitura. ;(
Anunciarei amanhã o motivo!

Beijos*** de Vet!

Maria Paula Ribeiro disse...

Neo,

Amigo,"Porque ser mais justo com os animais nossos amigos, leva-nos a ser mais justos com os nossos iguais."

PERFEITO!!!!!!!!

Caminhemos para 2030!,LOL Estás a ver porque me ri! ;)

Escreve à vontade... mas é natural que precisas mais tempo! "sou um osso duro de roer" em exteriorizar aquilo que SOU! He he he he

Beijo e abraço serrano

Anónimo disse...

Olá amiga

Estou mesmo gostando de tanta informação importante. É necessária toda essa informação para se divulgarem a pouco e pouco os conhecimentos aos donos dos animais. às Vezes eles não actuam por desconhecimento.

Mais uma vez obrigada

Beijinhos

Adelaide Figueiredo

Anónimo disse...

Este é um comentario que nao podia deixar de o fazer, pois a herdeira da "dinastia" está cá em casa...
Obrigado por tudo até a entrega da bruna da terra do Bandarra e obrigado por tudo nesta experiencia de ter um cão cá em casa(já lá vai quase um ano) e de todos os cuidados dados a minha querida Zola neste mesmo periodo.
Espero que ela tenha muitos manitos, pois sei que a dedicaçao sera a mesma.
Beijinhos dos 2 e um muito muito muito grande da tua "netinha".

Maria Paula Ribeiro disse...

Adelaide

Obrigado.

E como um amigo meu e disse há pouco tempo: "puxo a carroça", rumo à informação!

Jinhos

Maria Paula Ribeiro disse...

Pai Babado,

"Seja qual for a idade dos cães, o criador tem de procurar sempre vendê-los a pessoas sérias e motivadas."

Não podia se encaixar tão bem, não é assim?

Mas lá por seres o "pai babado", eu sei que por detrás de um grande homem, está sempre uma GRANDE MULHER! LOL

Obrigado amigos
Beijos e um enorme à herdeira da "dinastia" :)

Da próxima, a Zola terá mais manos! ;)

Joël Pinto disse...

Palavras para quê, Paula? Aquilo que escreves, principalmente no que respeita aos nossos amigos vem-te de dentro e isso é que o melhor da vida e em ti.

Jinho grande.

Anónimo disse...

Olá Paula,
Eu costumo dizer que o cão é o reflexo do seu dono e olha que é verdade pois se repararmos, salvo raras excepções, se o dono for obeso o seu cão é de igual forma obeso, se o dono estiver em forma o seu cão terá uma boa forma física também.
Então penso que deveremos falar primeiro na "socialização do dono" e só depois na "socialização do cão".
Beijocas

Maria Paula Ribeiro disse...

Joel,

Obrigado amigo.
Votos de um excelente reencontro com o Rafael! ;)

Tudo de bom amigo

Maria Paula Ribeiro disse...

Ana,

;) Mas amiga, existe um denominador comum que deveria existir: o amor e carinho com que tratas os "seres inferiores", onde sabes que quanto maior for a força do numerador, maior é VALOR.

Beijocas.

Leitura agora só para a semana. :(

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